domingo, 28 de setembro de 2008

Só e sós

Impressionante ver que, enquanto algumas pessoas lutam para aprender a viver sozinhas, gostar de sua própria compania, entender que tem que ser inteiras para se dividir com o outro(e se fazerem inteiras); outras perdem isso com uma facilidade que amedronta.
Vejo ao meu redor lindas moças que parecem não gostar mais de sair sozinhas, não dormem mais sem a presença de seus namorados, não fazem mais programas por elas, para elas, com as amigas.
Deixam de ser elas, mulheres, e passam a ser acompanhantes de seus companheiros (ou companheiras). "Ele não quer", "ele não gosta", "ele prefere assim". Uma certa irritação toma conta de mim quando escuto essas expressões. Não sei se é por ter lutado muito (e ainda estar lutando) para viver só, gostar da minha compania e não depender de nada e de ninguém. Não sei se é porque sinto que, ouvindo essas frases, me ligar a alguém fosse perder toda essa luta (que foi e ainda é intensa).
De qualquer maneira acho que deve (e tem que) existir um lugar do meio, um caminho central. Ter companheiros não significa ter um privilégio na vida, é só mais uma maneira de estar no mundo. Uns estão sós (e são de todo mundo) e outros escolhem uma compania para viver.
Ter uma pessoa ao lado não é ter uma prioridade na vida, todos temos prioridades e devemos colocá-las numa ordem sensata, para que não nos percamos em meio a vida ou ao chão que se abre quando uma delas cai por terra.
Antes de se partir, é preciso estar inteiro. Para dar um pouco de si, é preciso ter muito. Se temos pouco e dermos uma parte, não nos sobrará para usufruirmos. Ficamos assim pequenos, frágeis, vulneráveis.
É preciso viver o amor com parcimônia, bondade e serenidade para que não nos percamos de nós mesmos, para que não façamos do outro a prioridade; para que o chão não se abra.
É preciso ter amor antes de viver o amor. Não há de se dividir, há de se partilhar. Cada um inteiro em si, partilhando com o inteiro do outro. E não duas metades se fundindo.
Talvez ainda tenha muito o que aprender sobre a vida a dois. Mas antes é preciso aprender a vida em um. Inteiro.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Marolas...

Na linha tênue, no meio da corda, respirando fundo pra não cair para um lado; pedindo imensamente para cair para o outro.
Como se tivesse parado no meio, empacada, estanque. Nem feliz nem triste, meio. Nem euforia de viver, nem pesar de sofrer. Respiro e continuo onde estou. Sem pensar, sem questionar, simplesmente tentando viver um dia após o outro, empurrando com a barriga aquilo que não me deixa subir.
Me rotulo, não me deixando sair do lugar onde estou. Não vejo motivo pra euforia, nem fator de grande alegria. Estou, mais uma vez, no mesmo lugar.
Nada me comove muito. Talvez o que mais me comova seja a possibilidade da grande euforia, do estado de alegria. Choro por sentir aquela energia que pulsa, que da votade de viver. É só sentir um pedacinho daquele estado pra chorar como uma criança,que sente o gosto do doce na boca, mas sabe que não pode comê-lo.
Por que não posso comer o doce?
Por que o estado não vem pra ficar, de uma vez e se instaura dentro de mim?
Ainda não gosto do morno. E acabo vivendo no morno, no mais ou menos, no existir.
Não vivo, existo. E existindo vou esperando o dia em que vou viver de verdade,enquanto rememoro aqueles em que já vivi.
A mim não é permitido tanto. Como se vivesse dormindo, na esperança de um dia acordar. Vou navegando com a maré, que é de marolas, não de ondas grandes. Que não balança muito, balança, balança...
Não sinto nada ou vou apagando aquilo que vem emergindo, com medo da marola se transformar em onda grande e me engolir, me levando junto com ela. Já cansei de lutar contra as ondas grandes, elas se cansaram de tentar me engolir. Ou deram uma trégua, uma pausa.
O mar deu descanso. Mas quem disse que é descanso que quero?
Quero vida, energia, vontade de viver!
Gosto bom de cada dia, energia que move, vontade que nos leva pra frente, que nos tira o sono, que nos dá um sentido.
Cade o sentido, cade a vontade, cade a vida?
O que vier é bom, o que não vier é conformado. Sem expectativas, sem ansiedades.
Tempo demais, vida de menos.
Sono. Sono. Sono.

domingo, 21 de setembro de 2008

Eu tenho inveja. Pronto, falei.
Não entendo porque não vivo. Não vivo porque a vida ainda não quis assim. E sigo sem entender, com vontade de viver e ver se dá mesmo pra fazer diferente.

Saco sem fundo

Sabe quando a gente tem vontade de engolir o mundo? Dá vontade de fazer tudo, entender tudo, escrever e ler tudo. Tenho vontade de ler o que me aparece pela frente, de fazer coisas diferentes, pintar, estudar matemática, escrever um livro, um artigo, uma reportagem.
Aquela sensação de que o mundo é muito pequeno e o tempo é muito pouco pra tanta coisa que há. Como se tivesse descoberto agora as mil possibilidades que tem uma vida, os mil caminhos e as diversas formas de se chegar lá. Por que me contentar com pouco, se posso ter mais?
A profissão do jornalista me encanta por causa disso. Fazem diversas reportagens sobre os assuntos mais variados, e acabam sabedo um pouco de tudo! Por que se especializar se pode-se saber tanto? Por que me aprofundar só na educação, se posso entender a política, a economia, a sociologia, a história? Não me basta entender o aluno, quero entender o mundo ao seu redor.
As vezes me perco nessa vontade saber de tudo. É como se sabendo mais pudesse controlar mais as coisas, prever melhor o futuro, entender o de fora talvez facilite o entender de dentro.
Ainda não consigo entender pra onde vai o meu barco e se ele está indo na direção certa. Por enquanto vou navegando, mas com tanta sede que sou capaz de beber a água do mar.
Nunca consigo ficar satisfeita com o que está, com o que é. Sempre quero mais. Agora que, pela primeira vez, leio com prazer e, com muito prazer, descobri nos livros (não didáticos), uma fonte de conhecimento, quesitonamento, entendimento.
Parece que há um saco sem fundo dentro de mim. Quanto mais sei, mais quero saber e acabo gerando um ciclo vicioso de inquietações. Inquietações boas que me movem, não necessariamente na direção do trabalho, mas na direção do mundo.
Não me contento com pouco. Quero mais. Vou em busca.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Despedida literária

Acabo de terminar de ler "Cidade Partida" de Zuenir Ventura. Durante essas estivem imersa no universo de Vigário Geral, da violência urbana do Rio de Janeiro e dos movimentos sociais da década de 90.
Conheci melhor Rubens Cesar, com quem já havia tido contado na adolescência, sem ter a dimensão de sua atividade social. Entrei no mundo de Betinho, Caio Fábio, Caio Ferraz. Flávio Negão, Djalma. Entendi melhor os conflitos que vivemos na nossa cidade, hoje, mas gerei muito mais perguntas. Se a situação já estava desse jeito em 1994, como é que deve estar hoje?
O que a sociedade civil anda fazendo pela nossa cidade? O que leva alguns a seguirem caminhos tão diferentes dos outros . Uns vão pro crime, outros , filhos até dos mesmos mais, viram sociólogos, antropólogos e lutam contra a violência.
Me interessei por esse livro depois de ver o filme de Breno Silveira, "Era uma vez". Por alguns momentos achei que fosse emoção passageira com o filme (não tão interessante assim), mas depois percebi o quanto me cativei por aquele universo que, embora não seja meu, está presente, aqui, na minha porta. Pensando melhor, é sim o meu universo. Deveria ser, pois somos todos moradores de uma mesma cidade, uma cidade partida. Foi como abrir os olhos, abir a mente, enxergar a realidade.
Terminar de ler um livro é como se despedir de um lugar onde se viveu, se relacionou, se entranhou. Assim como Zuenir deve ter sentido sair de Vigário Geral depois de 10 meses praticamente morando lá, eu sinto sair desse universo que me trouxe tantas coisas. Tantos entendimentos, tantas dúvidas, tantas inquietações, tantas tristezas e tantas tragédias.
Gostaria de saber que fim levou Flávio Negão, o chefe do tráfico de Vigário Geral na época. Gostaria de saber como anda a Casa da Paz, a Fábrica da Esperança, os movimentos do Viva RIo.
O que é mais tocante é que não é mais um livro de ficção, onde tudo acaba ali, no passar a última página e fechar o livro. O encantador ou perturbador é que a história de Vigário Geral, da violência no Rio de Janeiro não acaba. Queria mais, queria saber mais.
Fica a despedida. E rumo ao próximo!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Te procuro nas ruas, esquinas, nos pontos de ônibus. Não te encontro. Te procuro em outros, não me contento. E continuo assim, a te procurar a cada dia, a cada passo, a cada rua que passa.
Só me restam os momentos. Os bons, o ruin fiz questão de perder, de deixar partir. Passo pela janela, não te vejo. Só lembro. Nunca mais vi, mas continuei te procurando. Nas esquinas, nos pontos, nas músicas...
E só a sensação de que quero deixar aqueles momentos intocáveis, aquelas horas ali, aqueles dias parados. Dias que não voltam e que se voltassem não seriam como aqueles. E continuo achando que, por mais que procure, nunca mais vou te encontrar.
"Solidão é lava. Que cobre tudo. Amargura em minha boca. Sorri seus dentes de chumbo."
Paulinho da Viola

Já escrevi sobre a solidão nesse espaço. Esse tem sido um tema muito recorrente pra mim nos últimos tempos. Talvez porque eu tenha me dado conta da solidão humana, da solidão do dia-a-dia, da solidão inevitável.
Talvez por me perceber só e entender que só depende de mim mudar o estado que chamo de solidão. Gosto de estar só sabendo que poderia não estar. Não gosto da solidão não escolhida. Como sempre, não gosto da falta de escolhas. Solidão mesmo é aquela que não se escolhe. Que é porque é. Pode - se estar só na multidão, pode-se estar só em casa, pode-se estar só no infinito. Mas a escolha é a de ficar só. Estar só não é escolha. Estar só é um acontecimento não planejado, não escolhido e muitas vezes não desejado.
Não desejo a solidão. Estou imersa nela. E vou me percebendo a cada dia mais emaranhada nessa teia, que vai entrando, me desfazendo. É lava. Vai cobrindo tudo e, ou nos conformamos com ela, ou passamos o resto de nossas vidas tentando lutar contra. E a luta é dura. É cansativa, é longa.
Livros são bons companheiros, músicas são boas companias. Mas não riem junto conosco, não temos troca de olhares, de toques, de vida.
Livros, discos e filmes servem pra tapear a solidão, pra nos dar uma alegria momentânea frente aquele estado que não é escolhido por nós. Servem para engrandecer a alma, enriquecer o espírito, dar leveza. Mas não são de carne e osso. Pra quem fala, precisa-se ouvidos atentos, olhares serenos, mãos protetoras. Pra quem gosta de ouvir, basta uma presença, uma palavra, um olhar simples e já não há mais solidão.
Eu gosto de tudo. Gosto de gente, da humanidade, da troca de olhares, palavras, gestos. Gosto de falar(principalmente de falar), de ouvir, de cantar junto, de olhar nos olhos, de rir, de chorar.
Simplesmente não sei estar só.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

"tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta, e o coração tranquilo."

terça-feira, 9 de setembro de 2008

É pena

É Pena.

Pena que as palavras não voltem
Que a dor não sare
Que as portas fiquem fechadas

Pena o sentimento perdido
O tempo passado
O jogo vencido

Pena deixar passar
Deixar de não doer
Deixar de amar

É pena as folhas que caem
As frutas que morrem
Os gritos ao vento

É pena.

É pena deixar partir
O barco ir embora
a maré ficar pequena

É pena o vazio
O morto
O escuro.

É pena as lágrimas cairem
Os olhos se cerrarem
As páginas se rasgarem

É pena que o tempo não volte
Que as estações passem
Que o inverno volte.

É pena.
E a pena se foi.
A gente não é enganado, se deixa enganar. Ninguém acredita naquilo que não quer acreditar.

A falta não cabida


Às vezes acho que queria outra vida. Nascer denovo, começar denovo, ter outra profissão, outros amigos, outras dúvidas, outros gostos. As vezes gosto do que faço, em outras tantas me canso,me irrito. Queria uma vida mais regular, mais certa. Em outros momentos quero só tirar um dia incerto, pra fazer só o que der na telha.
Vejo as pessoas felizes com seus trabalhos, suas vidas, suas casas. Ou elas não tem coragem de dizer seus problemas, suas angústias, seus medos ou eu mesma é que tenho algo fora do lugar por me perguntar e reclamar de tantas coisas.
Se tem algo errado, só eu que posso mudar. Mas onde foi que deixei passar? Onde é que está o x da questão? Do que gosto? Do que não gosto? O que quero mudar? Por onde começar?
A gente vai arrumando a nossa vida de um jeito que nem se pergunta se era aquilo mesmo que a gente queria, se estamos felizes, pra onde estamos indo, se queremos ir pra lá...
E vamos levando, sabendo que tem um pontinho que incomoda, jogando as infelicidades pra outros campos, jogando as certezas pra outras áreas que ainda não conquistamos. E vamos caminhando. Ou nos arrastando talvez.
Não tenho uma vida rotineira, tenho até bastante tempo livre. Um livre meio destinado, não tão livre assim. Não bato ponto, não tenho chefe. Uns até poderiam achar que tenho a vida que eles pediram à Deus. Talvez eles, não eu.
Fico rondando sempre em cima dos mesmos pontos, como um animal que vai ruminando, ruminando. Algo está fora do lugar... falta alguma coisa, falta tesão na vida... falta joie de vivre. Mas onde? Onde meu Deus?? Se isso é só uma sombra que paira, uma alma que me assombra e não diz de onde veio e nem pra onde vai!
É possível que eu esteja esperando por uma felicidade total, estável e inerte. Felicidade como estado eterno de espírito e não como momentos vividos.
Talvez isso tudo seja culpa do tempo, das nuvens e da chuva que não me deixam ver o sol. O sol me trás uma alegria imensurável. Me tras vida, energia, vigor, alegria.
É. Pode ser que falte o sol.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Haja equilíbrio, com tanta gente querendo te derrubar.

Exercício de Coletividade

Andar de ônibus no Rio de Janeiro pode ser um exercício de paciência melhor do que qualquer técnica oriental. Além disso, serve também como exercício de democracia, coletividade e, por que não, de serenidade.
Em primeiro lugar, você tem que ter a sorte do ônibus que vai te transportar ao seu destino não ser um daqueles mitos, como o 524 ou o 584. Não sendo, você deve esperar que o motorista tenha a bondade de passar pelo ponto por dentro, parando exatamente aonde tem aquela plaquinha com o deseinho do ônibus, sabe? Caso contrário reze, feche o corpo e se jogue no asfalto em busca do seu ônibus quase perdido.
No caso do seu ônibus ser um daqueles mitos já descritos acima, bom... não pense duas vezes, se jogue no asfalto!
Já dentro do ônibus, você tem que aprender a não se preocupar com a hora. O motorista do 157 não se preocupa com ela, vai andando devagariiiiinho, assim como quem passeia pela orla de copacabana num domingo de sol. Os demais vão parando em todos os pontos onde parece ter alguém e aí, chega o ponto do fiscal. Meu querido leitor, apele para todos os santos, para não haver um fiscal o seu caminho num dia de pressa. O nosso querido amigo motorista pára, fala "trinta e três", pergunta o resultado do jogo do flamengo, comenta a comida que a patroa mandou pra ele, enfim, e lá se foi aquele sinal aberto que você tanto precisava passar.
Mais um ponto. Ele para. Aparece aquela senhorinha perguntando:
- Passa na N. Sra da paz?
- Passa, responde o motorista.
- Naquela praça da Igreja? Pergunta novamente a senhorinha enquanto o onibus está parado para que ela se resolva.
- Sim senhora, na praça da Igreja.
- Ah tá, ela responde, deixa de entrar no ônibus e mais uma sinal foi perdido.
Quando você acha que finalmente começou a andar de maneira decente, entra no coletivo aquele grupo de turistas, com suas mochilas. O primeiro na fila pára a roleta para abrir a bolsa, tirar a carteira, o dinheiro e contá-lo devagarinho. Atrás dele, diversos outros turistas querendo entrar, e, é claro, o seu ônibus parado.
Com todas essas paradas citadas, um percurso que duraria quinze minutos, passa a durar meia hora. Claro que eu não estou contando com o trânsito, que é figurinha fácil nas ruas do Rio de uns anos pra cá. Mas esse assunto já foi devidamente citado, descrito e esperneado nesse blog.
Bom, você está sentado na sua poltrona, tentando manter a calma com as milhares de paradas que o ônibus dá, olha para os lados, tenta ver a paisagem, ouve uma música e, quando já está perto do seu ponto, senta alguém cheio de malas e bolsas do seu lado. Parece lei de Murph, e é.
Você respira fundo, levanta com toda a calma possível depois de uma viagem como essas, tenta apertar o botão, mas estão todos bom aquele esparadrapo isolante. O ponto está chegando, você corre, pula e alcança a cordinha. Não, o motorista não parou no seu ponto, ali aquele ônibus não faz ponto.
Mais uma vez, você respira fundo e desce.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Amiga Solidão

Um dos meus maiores medos é o da solidão. Talvez não o medo, mas ela em si. Já deveria ter me acostumado com a solidão do dia-a-dia, mas tenho medo de uma solidão futura. Ás vezes acho que tudo isso é um passo para chegar a nunca mais ter solidão. Mas ela nunca some. Nunca vai embora. Talvez devesse ficar amiga dela, tentar saber seus segredos, do que gosta, do que não gosta,como é por dentro, como é por fora, para então poder entendê-la e assim convivermos pacificamente.
É, talvez eu devesse aceitá-la do jeito que ela é. Aparecendo lá pelas seis da tarde, num sábado a noite, num domingo de manhã... Indo embora quando eu vou pro trabalho, encontro um amigo querido, um novo amor. Mas ela nunca vai embora de vez. Não sei porque tanto gosta daqui. Eu tento fingir que não a estou vendo, deixo ela passar por mim desapercebida, mas ela insiste. Insiste que quer ficar. Eu reclamo, debato, cedo, argumento, cedo denovo... às vezes chegamos a um consenso. Muitas outras não. Os amigos somem, as amigas namoram, mas a solidão... ah, essa é companheira fiel. Ela aparece quando todos somem. É daquelas pessoas que vem pra dizer: "olha aí, só restei eu..."
A sexta feira vai chegando e ela vai vindo de mansinho, devagarinho... e vai perguntando: " oque você vai fazer hoje à noite, ein? E amanhã? E domingo? Vai me fazer compania??" Ela insiste, você foge, tenta um jantar com amigos, uma saída com as meninas, mas não recebe resposta... e ela vai se chegando mais perto. "Pra que sair? Por que não vemos juntos o Zorra total sábado a noite? é bem melhor que sair com esses seus amigos pra lugares que vc não gosta" e continua: " não adianta, aquela sua amiga vai furar e você vai ter que ficar comigo." Até que, quando você viu, ela te tomou todo o final de semana. E quando a maioria se desespera ao ouvir a musiquinha do fantástico porque está chegando a segunda feira; você dá graças a Deus que mais um final de semana está acabando e que segunda feira a solidão começa a te dar uma trégua. Segunda feira é dia de trabalho, você encontra os colegas de trabalho, os amigos e não tem aquela terrível obrigação de se divertir.
Acho que não é questão de falta de amor... é falta de outra coisa que eu ainda não sei o que é. Talvez falta de farra, falta de muitos amigos que gostem de fazer as mesmas coisas, que estejam no mesmo momento. Ou falta de mim, não sei...
Só sei que não quero mais ela como companheira de fim de semana nem de fim de tarde.
Quero praia, gargalhadas muitas, choppinho no final da tarde, conversa boa até o amanhecer, dançar até cair no chão, cumplicidade pra toda vida.
Mas como faz isso? Por que não há mais isso? Será que deixei pra tras? Será que deixei passar? Ou será que é o mesmo problema do amor?
Será que é da vida? Será que é de mim? Será que é da fase?
Pergunto. Não respondo. ELa insiste em ficar. Eu deixo. Choro. Mando ela embora. Ela vai,mas diz que volta depois.

O caos nas palavras do escritor

Ferreira Gullar já disse, em 1958:
"Estou em plena cidade brasileira. Sair de casa cansa mais que trabalhar"

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Retrato do Caos

Trabalhar como professora horista, dando aula em escolas de música e casa de alunos pode ter diversas vantagens. Não tenho chefe direto (a não ser os donos das escolas que não interferem no meu trabalho), ganho mais por hora trabalhada, faço o que gosto. Claro que tem milhares de outras desvantagens que todo trabalho instável traz, mas nenhum, nenhum se compara ao TRÂNSITO CAÓTICO que tenho que enfrentar todos os dias.
Dando aulas em cantos opostos da cidade como Flamengo, barra, copacabana, jardim botânico e ainda estagiando em botafogo e morando no leblon passo quase todos os dias, mais tempo no trânsito do que dando aula realmente.
Vocês poderiam até pensa que o pior que faço é ir a Barra da Tijuca, que devo pegar um engarrafamento enorme na estrada do joá e na chegada à barra. Engano. O meu maior terror, o meu maior ódio é a rua jardim botânico em direção à gávea. NÃO HÁ NADA PIOR. Não há dia e nem horário em que aquela rua não esteja engarrafada. Hoje mesmo peguei por duas vezes (em horas distintas) o mesmo engarrafamento, no mesmo trecho da jardim botanico.
Não, eu não estou estressada.
Se nós passamos um terço de nossas vidas dormindo, eu passo o outro terço entre os ônibus do rio de janeiro. E o que me sobra??
É nesses momentos que eu sinto saudades da minha vidinha FRM... O dia todo no mesmo lugar, um engarrafamento só por dia... É insuportável o que essa cidade virou. Cheguei a ouvir em algum lugar que em cinco anos estaremos com o trânsito igual ao de São Paulo. Ahn??? Eu não consigo imaginar o que poderia ser pior que isso. A minha profissão se tornaria impossível.
Demoro às vezes uma hora para ir, outra para voltar. Infelizmente não consigo ler no ônibus, por isso preciso descobrir alguma atividade produtiva pra todo esse tempo que passo no meio de transporte urbano.
Se querer ser esnob ou coisa do tipo, nessas horas me dá uma saudade imensa de Paris... O metrô chega a qualquer lugar. E metro não pega trânsito. Se fosse em Paris eu sairia de casa, entraria numa estação de metro e sairia bem perto do meu destino, tendo que andar uma ou duas quadras no máximo.
Chegar em casa depois de um dia como o de hoje é praticamente um ato de sobrevivência ao stress urbano. Por isso me dispenso de reler esse texto e vou deixá-lo assim como está, como um retrato do caos, como um desabafo de quem não aguenta mais essa vida nômade.
Preciso andar a pé, qualquer coisa que não tenha vários carros enfileirados no meio, principalmente num dia louco de calor como o de hoje. Ponto final chega.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Falta TESÃO na vida. Na minha.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Baixa no Alto

Apesar de não ser velha de guerra, já morro no meu pequeno sub-bairro há 20 anos. O Alto leblon era tranquilo, sem engarrafamentos, sem muitos problemas de água, luz ou buracos nas ruas. Com prédios pequenos e algumas casas, mantinha uma tranquilidade que poucos bairros ainda tinham no Rio de Janeiro.
De uns 5 ou 6 anos pra cá as casas foram sendo demolidas, assim como os pequenos prédios. No lugar deles, não posso dizer que subiram espigões; mas com certeza, aonde moravam 10, hoje moram 30. Não há um ponto desse pequeno sub-bairro onde não se escute barulho de obras. Seja pela construção de prédios, pelo conserto de buracos, vazamentos e etc. Eu mesma fui (e ainda sou) vítima dessa especulação imobiliária. Antes, abria a janela e meus vizinhos eram árvores, flores, micos-leões que chegavam a entrar no meu quarto, bagunçando minhas estantes em busca de alimento. Há dois ou três anos (já perdi a conta), derrubaram todas as árvores, mandaram os micos embora e no lugar de tudo isso começaram a erguer um condomínio de dois prédios. OU seja, onde só moravam micos, vão morar aproximadamente 18 famílias. Meus vizinhos de frente passaram a ser os operários construtores que, nem preciso dizer, tiraram toda a minha privavidade e sossego. O barulho vai de segunda a SÁBADO, das 7 às 17h. Falta pouco para o empreendimento ficar pronto, mas durante esses três anos foram incontáveis as horas de sono que eu perdi.
Não bastasse isso, são muitas, como já disse, o número de novas construções por aqui. A rua, toda de paralelepípedo já está fadada a ser asfaltada. Os engarrafamentos às 9h, às 12h e às 18h já são constantes. São constantes também as obras da CEDAE para consertar os buracos causados por tantos carros. Em um mês já foram dois transformadores da light queimados.
Bom, eu só consigo enxergar isso como um aumento absurdo da população desse lugar sem que a estrutura do mesmo acompanhe. Se onde moravam 5, hoje moram 20 e onde não morava ninguém moram 100 é mais do que plausível que as ruas (são somente 2, as outras são ruelas sem saída) fiquem sobrecarregadas, assim como a rede de energia. Não me admiraria se daqui a pouco tivessemos problemas com rede de esgoto e de água.
Há 5 anos não havia engarrafamentos, nem quedas de luz constantes, nem idéias de asfaltamento. Há 5 anos não havia barulho de obra por todos os cantos, não havia tantos buracos na rua, não havia canto de passarinho sendo interrompido por britadeira.
Alguma coisa está fora da ordem. E se não fizermos alguma coisa, a ordem é que vai mudar.