segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Carna Noel em Madrid e outras cositas más.

Madrid está em festa pelo Natal. Com ritos que vão além de uma simples árvore montada no meio da praça, a cidade parece o centro comercial do Saara em época de pré carnaval. Muitas fantasias, chapéus, máscaras e acessórios sendo vendidos, assim como pessoas fantasiadas pelas ruas e até personagens da Disney distribuindo balões para alegrar a criançada. Famílias inteiras saem pelas ruas levando suas crianças na costas e fazendo do Natal uma celebração urbana. O que causa uma pequena estranheza é o fato de se ter, em pleno dia 26 uma feira que ainda vende artigos de Natal como enfeites e peças para se montar presépios. Parece que o Natal aqui dura mais do que a ceia do dia 24 para 25.
Outro ponto para ser comentado (e infelizmente lamentado) aqui é o estado em que se encontram as estações de Metro, aqui pronunciado sem o acento circunflexo no o. As estações são sujas, escuras e algumas tem até mendigos dormindo. Outras estão em obras e com infiltrações. Lamentável.
Até agora a cidade dá a impressão de um grande centro urbano permeado por atrações culturais. A grande e boa surpresa é a exposição "Jardins Impressionistas" no museu Thyssen - Bornemisza. Obras de Manet, Monet, Renoir, Dali e outros, retratando jardins foram a grande atração do dia de ontem. Quadros de emocionar aqueles que, como eu, são fãs do impressionismo e de encantar qualquer um.
Nada como uma taça de vinho da casa (bem forte e encorpada) para terminar o dia.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Barcos e ilhas

No primeiro dia, primeira hora, são caras estranhas, universos distantes, histórias desconhecidas. Relação desigual. Eles continentes de distância pra você. Você pra eles a âncora que os segura na terra, a bússola que, mesmo desconhecida vai os guiar pela imensidão das novas experiências. Estranhamentos tem que ser logo desfeitos, laços que tem de ser apertados instantaneamente, afinal, como a âncora vai se segurar no barco se nó, sem laço?
O esforço pra ligação ser feita parte de um lado. O outro se encontra parcialmente largado e dado em suas mãos, como quem precisa de salvação, ao mesmo tempo receoso de quem escolhe ser salvo por aquele que não conhece, nada sabe.
Aos poucos amarram- se os sapatos, cuida-se das bonecas e um dia, ao invés de "professora", ouve-se "Mãe". O som da palavra tornou-se natural pros que tem anos de profissão. Para aqueles que ovem esse vocativo pela primeira vez soa estranho mas terno, esquisito mas prova. Prova da ligação feita, do laço apertado, dos corações compartilhados. Soa música, abraço, algodão doce, sal de lágrima.
Cuida-se dos machucados de corpo e de alma, entra-se em cada universo ao mesmo tempo que em todos de uma vez só. Cada universo imenso, com plantas, flores, espinhos, cores e combinações diferentes.
Vira-se o porto seguro,mãe, curandeira, ensinante, ponto imbatível e inquebrantável. Não sente dor, não chora, não cai, nunca. Sabe as respostas para as questões não respondidas do universo, é juíz das causas mais difíceis, a melhor desenhista, a mais bonita, não tem pai, mãe ou filho, é ponto fixo.
É amor incondicional, retorno imediato, mas é laço desfeito em 1 ano. Tem carinho eterno, mas prazo de validade a vencer. Outro ano e outro porto seguro. A ilha fica, mas os barcos vão buscar outro, outro porto.
E solidão, "solidão é ilha com saudade de barco..."

sábado, 31 de julho de 2010

Desabafo em forma de pergunta.

Queria saber como faz pra não esperar, pra curtir a vida do jeito que está. Pra ser como as pessoas que, de repente um dia, sem pensar, encontraram!
Queria saber como faz pra ser feliz assim, mesmo sem se ter o que mais se quer.
Como faz? Como faz pra botar a receita que todos sabem de cor (inclusive eu) na prática?
Como faz pra mudar a chavinha?
Como faz pra incorporar, deixar pra trás, não pensar e ser feliz?
Como faz pra chegar no "quando menos se espera"? Tem receita pra isso? Tem receita pra esquecer que o tempo passa? Pra não ligar pro que não acontece? Pra entender mesmo que é dá pra ser feliz como que se tem sem se preocupar com o resto?
Se alguém sabe como faz pra fazer tudo isso, me diz, me conta, me dá a receita. Pra sair por aí livre, leve e solta e feliz "menos esperando" pra aí sim o que mais se espera bater a sua porta. Como faz? Dá pra tomar em pílulas? Dá pra pegar por osmose? Dá pra se ler num livro e se escrever num artigo?
Acho preciso mesmo de educação sentimental. Dá entrar no maternal? Será que ainda dá tempo de aprender? Quanto anos, quantas séries, quantas aulas tem que ter? Serei a aluna mais aplicada, farei todos os trabalhos, não faltarei a uma só aula. Mas contanto que o diploma não demore muito, não me mata o esforço, me angustio é com o tempo.
Queria mesmo saber como fazem os escritores de auto-ajuda, as mulheres bem resolvidas, os homens sem compromisso...
Queria mesmo saber...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Poema confuso

Não quer precisar de lá nem cá
Não quer ir com alguém ou ninguém
Quer ir só e inteira
Grande, em pé, certeira

Não vai se vestir de rosa
Não quer brincar com o azul
Quer o verde, o branco e o lilás

Mas ainda acha que sem rosa
Ainda acha que sem azul ou preto
Não fica bem só de verde e lilás

Ainda acha que precisa das cores vãs
Ainda quer, mesmo que por obrigação
Sentir contemplação por aquilo que já se foi

Não, não quer
Briga, bate o pé
Quer firmar o pé na base só
Mas o pé firma que tem que ter outro pé
Porque pé sozinho não finca no chão

Cisma que tem de ser dois
Porque ímpar não é sonho bom
Ímpar é falta
Cisma em ser par
Mesmo querendo ser impar/par

Cisma que a vida é a dois
Que a vida sem dois é vida só
Que vida só cai da corda
Que a corda é só pra um

E continua cambaleando
Entre o só e o dois
Entre o ímpar e o par

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Planta dormideira

Olhou a caixa de clips que ganhara dele e mantivera durante todos aqueles anos. Não havia restado nada mais a não ser um uma caixa de clips que ela olhou em sua casa, gostou e ganhara de presente singelo.
Não o olhava mais como antigo amor, de vidas vividas e passadas. Olhava com estranheza àquela pessoa que, tão perto havia chegado um dia. Hoje era tudo bem mais longe. Nada mais que assuntos corriqueiros sobre o cotidoano dele. Dele, pois o dela não o interessava mais.
Tentava se aprofundar, lembrar-se de que um dia tinham sido tão próximos e tão queridos e isso é coisa que não se deixa de lembrar. Seriam sempre para um e para outro os primeiro passos de laços maiores. O primeiro namorado, a primeira namorada. Isso ninguém lhes tirava. Se alguém lhe perguntasse um dia ou falasse desse assunto em qualquer roda, era dele que se lembraria. E a ele poderia dizer o mesmo.
Não havia restado mais nada a não ser o carinho que, ela, insistia em manter, e aquela caixa de clips em formato de lápis. Acabava sempre esquecendo de mencionar o grande urso panda que ocupava metade de sua cama e que ganhara naquele único aniversário que viveram. Ele, o urso, tornou-se companheiro inseparável de todas as noites. E assim como a caixa de clips foi ficando, ficando e ficando a mostra, pois o resto; as fotos e presentes e cartões estavam guardados há anos dentro de uma caixa.
Não sentia falta dele ou do amor perdido e estabelecido no passado. Aquilo já vivia resolvido e passado há tantos anos, amores, laços e desfios depois. O que não a deixava a mente quieta era ver que com ele, logo com ele, o primeiro, aquele com quem aprendeu a viver junto, a ceder, a brigar e a fazer as pazes; logo com ele não conseguia passar do vai-e-vem da vida cotidiana.
Se mantinha fechado como quem não quer dividir ou lembrar do que passou. Ela com coração de quem ama, escorrega, cai e levanta novamente, insitia em lembrá-lo do que já tinham sido um para o outro e de como agora era ela, anos depois, uma mulher e não a menina de antes.
Mais uma vez olhos naqueles olhos como quem procurava algo de antigo, de permanecente, de eterno, mas logo ele desviava o olhar, se encolhia como minhoca no casulo, como a planta dormideira que não pode ser tocada.
Mesmo assim, ela mantinha vivo, mesmo sem saber aquele carinho e ternura de primeiro amor.
E sem perceber, à noite, sonhava com ele.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Aprumos

Arrumava s gavetas, os armários, a mesa. Ia colocando tudo em seu lugar, jogando fora o que não tinha mais uso, guardando aquilo que, mesmo que não se use mais, ainda lhe pertence.
Mudava alguns objetos de lugar, na esperança que ficassem ali, melhor acomodados. Difícil era jogar fora aquilo que morre, apodrece, papel mofado, discos arranhados. Aquela foto já quase apagada, o lápis já sem tamanho pra ponta, a tesoura enferrujada. Olhava o bilhete amassado, velho, quase rasgado. Sabia que tinha que jogá-lo no lixo, não lhe tinha mais serventia. Acumularia poeira, formiga, fungos. Olhava e olhava novamente na esperança de que um raio de clareza lhe fizesse deixar nas gavetas só o que precisava. Então fitava a flor guardada dentro livro. Seca, sem vida, sem cor. Talvez não conseguisse jogá-la fora na esperança de que voltasse a ter vida, de que se a plantasse novamente no vaso pudesse voltar ao rosa vibrante que tinha antes. Perseguia -a na esperança de que somente o seu olhar restaurasse aquele pequeno pedaço de planta e o transformasse de volta naquilo que foi um dia, ou naquilo que ela gostaria que fosse.
Não era possível. Não tinha tamanho poder e sabia que mesmo que quisesse não seria capaz de transformar de volta folha em flor, cinzas em papel, cores em fotos, preto e branco em cor.
Era preciso jogar mesmo tudo naquela sacola branca para enfim ser levado pra um lugar distante onde enfim ia ser decompor ou dado a outros que precisariam mais.
Papel sem uso vira rascunho, as fotos são rearrumadas na cortiça, sonhos são postos dela lado, outros são reavivados. Sabia que era preciso continuar arrumando para continuar vivendo, sabia que era necessário substituir fotos, papéis, anéis, lápis que se acabavam.
Cansou de arrumar e resolveu deixar tudo como estava, não como antes, mas como já tinha conseguido arrumar até agora. Não era a arrumação ideal, mas era havia feito o que lhe era possível e já era bastante.
Talvez a flor seca ainda fosse continuar dentro do livro. Mas havia conseguido substituir as fotos, os papéis e jogar outros tantos fora. E isso já lhe abria espaço. Espaço pra um novo tempo e para outra arrumação que tivesse que vir.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mente calada

Precisava não parar, não pensar, não deixar de viver. O cansaço que lhe tomava o corpo lhe tirava o ar, mas mesmo assim, insistia em manter viva aquela energia pulsante que a mantinha longe de qualquer pensamento. Mesmo assim o corpo continuava insistindo em parar, em pensar, em não dizer ou falar nada, em simplesmente estar. Corpo e mente entravam então numa disputa intensa que dava ao primeiro grande vantagem.
Mesmo não querendo parar, foi delicadamente levada a deixar-se ficar, foi deixando-se tomar conta por aquela onda leve e intensa, parada e calada. Aquilo que pulsava dentro de si continuava querendo falar, tomar palavra, mas já não encontrava mais espaço, tinha sido engolida.
E assim ficou sentada no tempo, contemplando como um filme tudo que se passava na mente. Contemplando todo o sentimento, pensamento, palavra, sem pegar nada para si. Não era uma escolha, era levada a como um barco sem âncora, como folha no vento. Talvez amanhã tivesse outra vez poder sobre seu corpo, talvez amanhã a mente pudesse dizer sim e ser ouvida. Mas hoje não, hoje era só corpo. E corpo, mesmo com aquilo que não sabia o que era e que procurava entender e fugir, pedia silêncio.

sábado, 23 de janeiro de 2010

À deriva

À deriva o barco vai embora.
solta-se da âncora
navega por mares turvos
não sabe se volta

À deriva o barco perde o cais
se desvanece em suspiros e ais
se desmancha como espuma e pruma.

À deriva é barco sem destino
é ritmo de compasso descabido
é pé sem equilíbrio, corda sem fim

à deriva não sabe onde vai
se vai, se volta, se esvai

É polígono irregular
número ímpar
imcompleto
disperso

É não ter chão
É prender o ar
torcendo pra enfim suspirar

À deriva sem número par.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Pausa

Pausa.
Tempo
Silêncio
Compasso vazio

Shhhh
Suspiro
Ar, falta
Compasso partido
Repartido

Compasso de dois
samba
De tres
valsa
De um
Compasso que não existe

Pausa
Pausa
Pausa

Não deixa o tempo cair
Não deixe o moço sair
Não deixe para
Não deixe sumir

Pausa no tempo
Silêncio no compasso
Pra moça respirar
Pro tempo parar
Parar de tentar.

Pausa

Era hora de parar e descansar. Sentia uma tristeza leve e ao mesmo tempo profunda. Latente daquelas que não se deixa ir embora, daquelas que nos quer lembrar o tempo todo que não estamos sós. Estamos com ela.

Respirava aliviada um suspiro que há tempos não era capaz de dar. Caminhava com leveza e clareza pela praia, enxergava agora o que antes não podia. A água agora era clara, cristalina, pura. Tinha consciência de tudo e era só.

Era um cansaço constante como quem precisa dormir dias depois de noites sem dormir. Antes dormia porém agora o corpo e a mente descansavam. Descansavam de si mesma, da tormenta que ela mesma criara.

Não sabe dizer até agora como chegou aonde está. Como se livrou da tormenta, das noites mal dormidas, quem lhe trouxera o respiro e o suspiro de volta. Não sabia, tentava saber, olhar, entende; como sempre, era daquelas que não se continha em não entender, mesmo aquilo que não era para ser entendido. Talvez nem devesse mesmo entender, pensava. Mas como, ´se há dias, semanas mal era capaz de fazer o ar entrar e sair dos pulmões e agora respirava com tanta facilidade. Respirava, sentia o ar entrar e sair, suspirava como quem deixa pra fora tudo o que não quer mais. E precisava respirar e suspirar ainda mais e mais.

A mente tem dessas artimanhas. Vai nos criando e pregando peças até que nos vemos num labirinto sem fim, sem saída, sem ar. E de repente, como quem se vê num emaranhado de teias, todas se desfiam e a gente cai. Cai no colchão de ar, mas com a pancada da queda.

E é essa, pancada da queda que não a deixava respirar profundamente sem o tantinho de dor. Tantinho mesmo, mas suficiente para que tirasse dela a leveza de antes. Por mais que agora soubesse disfarçar mais, andar com mais equilíbrio, levantar com mais facilidade, ainda assim não era possível descartar aquela pontinha.

Era tarde, muito tarde, mas era necessário recuperar o que tinha perdido. Era daquelas que depositava alto, apostava todos os sonhos, todas as fichas, todas as energias. E perdendo (de qualquer forma que fosse o perder), ficava fraca, com menos vida, cansada de ter que começar tudo novamente.

Mas ia, ia como quem levanta da cama todos os dias para trabalhar. As vezes a vida se tornava um trabalho diário e mecânico, com tarefas e deveres a serem cumpridos, mesmo nas férias.

Precisava ficar mais consigo, ouvir suas vontades, suas faltas, suas tristezas. Parar, olhar, enxergar, entender ou não, e enfrentar. Entrar mesmo em contato com aquilo que ela sabia que tinha ferido, doído. Era brava, não queria admitir pra si mesma que tinha aberto novamente aquele caminho, aquela ferida, ferida sabida que tinha que ser bem cuidada.

Descuidou-se, ou deixou-se descuidar pensando numa retomada, numa reviravolta. Acreditava nas reviravoltas da vida de vez em quando.

Precisava descansar, se cuidar, mas ao mesmo tempo não queria parar. Apesar de saber que era uma pausa necessária, não queria parar, com medo do que a pausa traz.

Era preciso parar, repousar para voltar. Mas tinha medo do tempo perdido, das coisas perdidas que não voltam mais. Assim como o sol de um dia de verão.

Ainda estava na corda bamba, assim como o equilibrista que sabe que, se parar, cai.

Precisava cair. Será?