quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

 "Diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz"

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Arte Extraordiária

O Na Corda Bamba dá uma pausa nos poemas intensos para falar em prosa sobre uma experiência incrível vivenciada há menos de três horas.
Trata-se do filme " Lixo Extraordinário", que conta a história de diversos catadores de lixo (ou catadores de material reciclável, como eles mesmo se entitulam) que participaram das criações de Vik Muniz.
A expressão, a história e até a dor de cada personagem, aliada a vontade de mudar o mundo do artista, nos traz um traço de como podemos entender e exergar a dignidade humana.
Talvez esses, que viviam (digo viviam porque não vivem mais, mudaram de vida) imersos em sujeira, micróbios e expostos a doenças, misturando carne humana com lixo; experimentando de uma qualidade vida que muitos sequer consideram vida. Esses são talvez cidadãos dos mais dignos que já pude ver.
O filme mostra uma vontade de mudar o mundo, misturada com uma mudança de mentalidade, de sensibilidade e autoestima trazida pela arte. E é ela, junto com a dignidade, a personagem principal desse filme.
É a arte a combinação de sons, palavras, gestos, cores, materiais que geram uma reação em cada pessoa. Em certo momento Vik pergunta a Sebastião se alguma coisa deixa de ser arte porque não desperta nenhum sentimento ou  se isso ocorre por falta de conhecimento. A própria discussão dos dois, como na Maiêutica em que o professor tira do aluno o conhecimento que já está dentro dele, leva Tião a chegar a conclusão de que arte necessita sim, de conhecimento para ser apreciada como tal.
A mudança que a arte provoca na vida de cada um, o auto reconhecimento de cada um como ser humano e ser atuante no mundo. Os próprios foram transformados pela arte e foram meio de transformação na vida de diversas outras pessoas, assim como essa que vos fala.
A arte está então em juntar peças diversas de maneira única, juntar mateiriais desconexos de tal forma que outro não faria. Duas pessoas não pintariam o mesmo quadro com as mesmas tintas.
A arte está então na manisfestação interna de cada um, do desejo e não desejo transformado em produto interno. Daquilo que não pode ser exprimido como real total. A arte é o interior de cada um se utilizando de cores, pincéis, argila, palavras, bronze, mármore.
A arte então deixa de ser a mera reprodução para ser a produção única e autônoma de cada indivíduo acerca daquilo que vê, acerca das transformações que faz dentro de si, da maneira como enxerga e vive o mundo.
A arte pode estar em um simples olhar diferente para o céu azul do verão? Ou é necessária uma experiência e um produto concreto e externo para que deixe de ser sentimento e vire arte?
Vik Muniz e seu trabalho com os catadores, junto com obras e obras vistas, olhares e olhares perplexos sobre pinturas, me levaram a toda essa reflexão acerca do que é arte, por que se faz arte e entender que todos sim, somos artistas, a partir do momento em que todos nos expressamos no mundo de alguma forma.
Seria possível viver no mundo sem arte?
Talvez os próprios catadores ainda não tivessem podido experimentar o mundo com arte, talvez não tivessem ainda se dado conta da arte na própria vida.
Tião diz: "Um dia ainda vou comprar meu quadro de volta". Um devaneio talvez para quem o enxergue somente como um catador de lixo que teve uma pequena oportunidade dada por um artista de reconhecimento internacional e que, deslumbrado, teria que voltar a sua vida de pobreza e miséria. Pra mim, Tião é um sujeito pensante, atuante, reflexivo e detentor dos próprios sonhos e do rumo de sua vida.
Definitivamente não foi só o dinheiro das obras que transformou a vida dessas pessoas.
Foi a arte.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Ciclo

Dói
Lateja
Sufoca
Do sufocamento à calma
Da angústia à liberdade do ar

Respira
Aperta de novo
Dói
Lateja
Sufoca

Por um breve momento respira
Esquece
Enternece
Sente o ar

Expira
E aperta
Dói
Lateja
Sufoca

Respira
O ar entra com frieza
Sai com toda leveza

E fora sente o frio de que não sabe
Endurece
Aperta
Dói
Sufoca
Lateja
Lateja esperando pelo suspiro.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Silêncio

Precisa do silêncio
Da calma
Do espaço
Do vão

Precisa do tempo
Tempo de deixar
Tempo de assentar
Tempo pra calar

Precisa da pausa

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Pode-se

Quando bate o vento
Pode-se a porta fechar
Pode-se o trinco cerrar
Pode-se a chave cair

Quando chove
Pode cair tempestade
Pode serenar
Pode ser chuvisco ou granulado

Pode-se o tempo passar
Pode-se passar pelo tempo
Pode-se ficar no instante
Pode-se num instante estar

A porta pode ficar entreaberta
Pode fechar
Pode trancar ou até emperrar
Pode o vento ser leve
Pode a chuva soprar forte

Pode ser brisa
Pode ser maresia
Pode ser tempestade

Há que se entender o poder
Há que se saber esperar
Há que se cumprir o sentir
Há que se deixar de levar

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Venha

Venha quando quiseres
Quando tiveres sede
Quando sentires o chão

Venha com os pés
Mas que sejam os seus
Não os meus a te guiar

Venha de peito aberto
De alma lavada
De rosto tranquilo

Venha por si
Consigo
Com a sorte e a certeza

Venha pelo destino
Pelo traço já feito
Pelo caminho percorrido

Espero
Até o tempo que seja
Tempo em que a minha certeza
Ainda caiba na sua