domingo, 19 de outubro de 2008

"Bandido do Crime ou Bandaide do Creme?"

Acabo de ler "Abusado" de Caco Barcellos. Esse livro, junto com "Cidade Partida", de Zuenir Ventura, abriu meus olhos para um mundo que corria paralelo a mim e que só me despertava um sentimento: medo. Não passarei mais pelo morro Dona Marta e por nenhuma outra favela com os melhos olhos de antes, nem com a mesma alma. Alma de quem tem medo, que quer distância, que quer separar o joio do trigo.
A vontade que tenho agora é de entrar naquele lugar, olhar o rosto das pessoas, entender como vivem, como pensam, como partem.
Sempre tive muito medo de bandidos, desde criança. Acho que minha geração, (e mais ainda as que estão aí e as que hão de vir) não viveram na infância só o medo do monstro, do saçi pererê, dos vampiros, do Esqueleto e do Coringa. Nossas gerações vivem agora o medo do crime.
Eu, quando pequena, tinha "medo do ladrão." Achava que, a qualquer momento, minha casa ia ser invadida por desconhecidos que roubariam tudo que eu tinha. Na minha fantasia infantil eles arrombariam a porta ou mesmo tocariam a campainha, na esperança de que um desavisado abrisse a porta sem olhar.
Todo o medo que sempre tive "do ladrão" me fazia não levantar de madrugada com receio de escutar algum barulho, fazia meu coração saltar a cada vez que uma campainha tocava tarde da noite ou de madrugada.
Talvez por isso hoje eu tenha tanto interesse por esse mundo, do qual sempre tive tanto pavor. Vontade de desmistificar, de entender as relações exsitentes entre eles, e de ver que a maioria entra nessa vida por precisar lutar por um futuro melhor. Como dizia Juliano VP, personagem principal do livro de Caco Barcellos, "é o lado certo da vida errada."
Sei que atrocidades são cometidas por causa disso e não estou aqui para jusficar nada, só entendi que eles, como todos nós, buscam uma saída para a vida; uma solução para a pobreza e para a miséria.
São muitas interrogações e tristezas que esse livro vai deixar. Mas vale apena ler e descobrir o que há por trás daquilo que temos tanto medo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Antes ele era fechado, calado, medroso. Antes não se abria pra ninguém, com medo do que pudesse vir para frente.
Um dia resolveu experimentar a vida, sair por aí andando, sem medo de ser feliz, de se doar, de se machucar, de se perder. Acabou indo longe de mais. Se vendeu por pouco, tinha medo de ficar só, achava que precisava experimentar demais, por ter ficado tanto tempo fechado. Achava que tinha que recuperar o tempo perdido.
Agora ele se encontrou. É dono do seu nariz, das suas vontades, do seu caminho. Agora sabe o que quer, e principalmente, o que não quer. Aprendeu a dizer não, aprendeu a equilibrar o sim.
Agora ele é dono de si.
Agora ele é meu, e ninguém tasca.
Essa moça tá diferente.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Feliz Dia dos Professores


Parabéns a todos nós, que acreditamos na Educação como forma de transformar as pessoas, de transformar o mundo.
Parabéns a nós que olhamos cada um como ser único e cheio de possibilidades.
Parabéns a nós que pensamos, repensamos e não nos aquietamos enquanto não ajudarmos eles a sererm construtores do conhecimento!
Parabéns a nós que passamos horas a fio preparando atividades, materiais, sonhos.

Parabéns a nós, professores! Que nunca percamos o sonho, o infinito e a vontade de ver florescer!

domingo, 12 de outubro de 2008

Carta ao antigo amigo.

Primeiro queria te dizer que é uma pena. É uma pena não dividirmos mais a vida, não compartilharmos mais as risadas,as tristezas, os planos. Você foi fazendo sua esolha aos poucos, indo para um outro lado, pra outra casa. Não que essa casa e esse lado nos mantivessem longe, mas você preferiu assim. Mesmo tentando diversas vezes, não te resgatar e promover o nosso encontro. O encontro das nossas almas, das nossas risadas, das nossas imagens e momentos. Você escolheu assim. Não conseguiu enxergar que, mesmo do outro lado da rua, mesmo da outra casa, ainda podíamos continuar compartilhando nossas vidas. E resolveu que, ao invés de se somar com os outos, ia se doar a uma só.
Ou resolveu que outras coisas eram mais importantes, que outros momentos prioridade. E os nossos, os nossos que poderiam estar sendo vividos até hoje; ficaram só na lembrança. Ou num encontro casual, numa conversa banal, no vai e vem da vida.
Pode ser que as coisas sejam mesmo assim, que você seja mais feliz nesse caminho. Mas não me conformo, não mesmo, de ver amigos partirem por motivos banais. Por isso, querido amigo (a), declaro aqui, nesse exato instante, desisto de tirar do baú nossas lembranças. Desisto de tentar nos transformar em amigos de verdade ao invés de amigos que agora são só colegas de trabalho, de aniversários em comum, de enganos. Desisto. Não mais te procurarei fingindo esquecer que você não me procura mais; não mais te chamarei pra um cinema, um café, uma memória, pois assim você não quer mais.
Uma pena as amizades tão próximas terem que ficar enterradas num baú, como se só pudessem ser resgatadas anos depois, quando se relembra, quando se vive o passado. Não quero amizade de passado, quero compartilhar o presente, planejar o futuro, rir da moça de chapéu na esquina. Mas assim você não quis mais. É dever do ser humano respeitar a escolha do outro. E assim permanerecei.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A dádiva da escolha.

Alicia Fernández, uma famosa psicopedagoga argentina, fala sobre a construção da autoria na criança. Segundo ela, só aprendemos quando somos autores do nosso processo de aprendizagem, ou seja, quando somos atores principais no nosso filme.
A aprendizagem não é algo passivo, não é transmissão de conhecimento; vem do colocar em prática aquilo que se construiu, de exercer aquilo que já é seu.
O que muitas pessoas não se dão conta é que não são só as crianças que precisam construir autoria e serem autoras da própria vida e da prória história. Muitos adultos por aí se esqueceram de serem sujeitos donos de sua vida, escolhedores dos próprios caminhos, detendores da própria vontade. E vão abrindo espaço para que os outros escolham por eles, façam por eles, sintam por eles. Vão levando, empurrando a vida com a barriga, ou deixando serem epurrados por outros.
Escolher é uma das maiores dádivas que ganhamos na vida. Adão e Eva já tinham o livre arbítro. E ainda ganhamos cada vez mais o poder dessa escolha. Escolhemos nossas profissões, se vamos casar, se vamos ter filhos. Escolhemos em quem votar, em quem não votar, quem amar, quem casar. Escolhemos se vamos ao teatro ou ao cinema; à praia ou a piscina; à chuva ou ao sol. A gosto da liberdade presente nisso e o poder de tomar as próprias decisões, são, pra mim, das melhores coisas da vida.
E tem gente que abre mão disso. Pra viver uma vida sem escolhas, pra deixar os outros influenciarem demais, ouvindo-se cada vez menos. E vão perdendo a habilidade de ouvir aquela vozinha lá no fundo (que uns chamam de intuição, outros de sexto sentido, outros de coração), que nos diz exatamente o que fazer. Eu ando treinando cada vez mais a audição dessa vozinha. E tem dado certo. Ela raramente erra. E assim vou aprendendo, sendo sujeito de minha história, autora dos meus livros, dos meus erros, dos meus acertos. E sigo exercendo esse poder.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A vitrola

Fui levar uma das minhas turmas de musicalização à exposição sobre os 50 anos da bossa nova, no SESC do Flamengo. São três meninas entre 7 e 8 anos que não tinham muito conhecimento sobre a bossa nova e muito menos sobre o que acontecia nas décadas de 50 e 60, muito distantes de sua realidade.
A exposição mostra um paralelo entre o que ocorria nos anos de 58 a 68 no Brasil, no mundo e na Bossa nova.
Quando descobriram que a televisão era em preto e branco e que os programas eram ao vivo, uma delas colocou:
"Ao vivo? Como? E se eles errassem as falas?"
Vendo na parede fotos e nomes de Vinícios de Morais, Tom, Nara, viram que o primeiro nome, João Gilberto, não tinha foto. E me perguntaram por que. ... Elas realmente não conhecem João Gilberto...
E ao longo da exposição elas foram descobrindo tudo aquilo que, se é novidade para mim, imagina para elas.
Entretanto, o ápice da excursão aconteceu numa sala temática que reproduzia uma sala de estar de uma casa, no final dos anos 50. Havia uma televisão em preto e branco passando comerciais da época, sofás, abajur, relógio, poltronas e... UMA VITROLA com vários discos de vinil da bossa nova para serem ouvidos.
De repente me pego vendo a guia da exposição explicar para aquelas meninas, que já nasceram com o ipod no ouvido, que não sabem o que é fita kassete e muito menos disco de vinil; como funciona uma vitrola.
Eu nasci ouvindo vitrola e disco de vinil. Eu preciso é que alguém me explique como funciona um Ipod, um Iphone. E de repente vi que o tempo passa.
Não sabia se ria ou se me encantava com aquela situação.
Logo após sairmos da sala, onde tinha outros visitantes, as meninas quiseram voltar, agora sem a guia. E me pediram para ligar a vitrola. E foi aí que eu percebi que não sabia mais ligar a vitrola.