sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Andar de Bicicleta

Para aprender a andar de bicicleta são necessárias três etapas:

1- Andar com a bicicleta de rodinhas, para que conheçamos a bicicleta toda com segurança, possamos decidir a direção, medir o tamanho do guidon, nos acomodarmos ao banco.

2 - Andar com a bicicleta ja sem rodinhas mas com alguém segurando, para que possamos sentir um pouco o desequilíbrio, mas sabendo que alguém estará nos segurando.

3- Por fim, precisamos andar SEM as rodinhas e sem alguém nos segurando. Caindo, levantando, nos desequilibrando e retomando o equilíbrio, agora sim, sozinhos. Pois a bicicleta é um transporte individual, não dá para seguirmos para qualquer lugar com alguém nos segurando. Andar sozinho é decidir nosso destino, pra onde vai o guidon. Construir e reconstruir equilíbrio é formar nossa identidade, crescer e amadurecer.

Pois tem gente que tem dificuldades de deixar o outro seguir sozinho pela bicicleta, de largá -la e deixar o outro seguir sozinho, se desequilibrar, cair, se reerguer. Tem medo que o outro caia. Mas para se levantar, é preciso cair.
É preciso aprender a deixar ir.

domingo, 23 de novembro de 2008

Antes do Amanhecer


Não se conheciam. Marcaram um encontro na Piazza de la Signoria às 19h em frente à estátua de Perseu segurando a cabeça de Medusa.
Andou o dia todo por Florença, a cidade arte da Toscana, passou pelo Duomo, pela Ponte Vecchio, andou pelas ruas estreitas com chão de pedra. Antes da hora marcada já estava no ponto de encontro. Olhava para todos os homens que passavam pensando que pudessem ser ele, uns mais estranhos, outros mais bonitos,uns velhos, outros moços. Não sabia seu rosto, sua idade, seu jeito. Só tinha um nome e um ponto de encontro. Circulou por todas as estátuas e pensou diversas vezes em fugir do encontro. Como iria se encontrar com alguém que nunca tinha visto, numa cidade desconhecida, num país outro? Não fugiu. Não tinha mais como. Já tinha enfrentado medos muito mais escabrosos pra fugir de um tão simples.
De repente o viu andando em sua direção. Já tinha se perguntado se estava frente à estátua certa, na praça certa, no horário certo. No momento em que o viu, sabia que era ele. Era como se sempre se conhecessem. Ela cheia de sacolas, ele cheio de aventuras. Ela temerosa e cansada, ele com fôlego para mais 4 meses de andanças pela Europa.
Andaram por toda a cidade, passaram por diversos lugares, muitos ela já os tinha visto de dia. Mas agora era diferente. Era de noite, não estava mais sozinha.
Ele falava da estonteante arquitetura da Duomo e ia lhe explicando cada detalhe. Ela falava de seus medos, de sua tristeza de estar só. Ainda faltava Roma e Portugal a seguir sozinha.
Procuravam um restaurante para jantar. Andavam, se perdiam. Já não fazia mais tanto frio.
Entraram em um. Resolveram não ficar. O chapéu comprado em Paris foi perdido. Ficou como pedaço daquela noite meio mágica meio salvadora. Tudo bem, ela nem gostava dele tanto assim. Do chapéu.
Não tomaram vinho, tiraram fotos, conversaram como se fossem grandes amigos, há grandes tempos. Planejaram reencontros no Brasil. Eram de naturezas diferentes. Ele era do mundo. Ela era das pessoas. Ela presa, ele livre. Ele cidadão do universo, ela um pássaro contido, precisava de dono.
Um não tentava convencer o outro, mas as palavras dele soavam para ela como sonho distante . Quis ser daquele jeito. Não pensar no amanhã, no ontem, no que tinha ficado. E apesar de fechado, trancado e nomeado, aquele coração teve medo de cair. Já tinha caído, mas ela não quis perceber a queda. Pegou - o colocou de volta no lugar e continuou.
Ele a chamou pra sair. Ela era presa. Combinaram outra coisa pro dia seguinte. O coração quis fugir de novo rumo ao desconhecido, ao novo, a aventura. Ela, como boa sentinela, não deixou. Fugiu pra Assis no dia seguinte.Achou que Francisco talvez pudesse salvá-la daquele coração inquieto. E depois pra Roma, outra fuga.
Não mais se encontraram em terras européias. Não viveram nada além de uma caminhada por Florença, a cidade arte da Toscana. Ficou somente a lembrança de uma noite entre Davi, Perceu, Medusa e Pinnochio. Um jantar e uma bela conversa. Ela com massa, ele com risoto.Trocaram emails, tentaram se reencontrar em terras portuguesas. Não conseguiram. Talvez houvesse mesmo que ficar só em Florença.
Ela quando voltou ao Brasil, teve o coração nomeado despedaçado. Agora já não tinha mais nome.
Ele? Bem, ele era um cidadão do mundo.

sábado, 22 de novembro de 2008

O ministério Na corda Bamba adverte e corrige: todos andam descalços nesse mundo.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sapato alto de salto agulha

Algumas pessoas tem o dom de magoar como quem pisa de salto alto agulha num pé descalço. A própria descrição da metáfora já me causa uma enorme aflição. Mas quem fere assim não provoca dor física, é dor de alma. Nos tira a paz. E é como se quanto mais pisasse mais insatisfeito fica com o buraco deixado. E continua pisando, pra ver até onde o pé aguenta sem tirar. Mas tem pés que cismam em voltar pro mesmo lugar, mesmo sabendo que ali correm sapatos altos de salto agulha. Sapatos que não olham por onde andam, sapatos que pisam pela simples alegria de se pisar. Pisar no chão é um ato sem dor. Nós empurramos o chão, o chão nos empurra de volta, e assim andamos. Nesse caso o pisar é pré-requisito para a caminhada, pra ir pra frente.
O pisar no pé não. Pisa-se por distração, por maldade, por curiosidade de saber até onde vai a força do próprio pé contra a força do outro.
As vezes o pé de baixo também é curioso, teimoso, chega a ser até masoquista. Se vê e se sente pisado, não tira o pé de baixo. Fica vendo até aonde aguenta a dor, quanto tempo consegue ficar em baixo do outro pé. Tem gente que só ao ameaçar da sombra de um sapato alto de salto agulha já tira seu pé no mesmo instante. Já sente a dor antes de tê-la fisicamente presente.
Tem um sapato alto de salto agulha perfurando meu pé, mas não consigo tira-lo de onde está.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Porta de Saída

Tentou sair por onde tinha entrado. Não encontrou saída. Precisava então desenhar uma porta para que saísse ilesa, sem nenhum arranhão. Era impossível. A porta pela qual tinha entrado era larga, leve, bem aberta, desses portões de casa de . Com tão pouca sabedoria em desenhar portas não saberia fazer uma que lhe desse tanto conforto. Então era uma certeza: iria sair machucada.
Mas tinha que sair. O ar ali dentro já se tornava intragável, os dias começavam a ficar intermináveis e o gosto já não era como o de antes. Antes ela ia experimentando o gosto, o cheiro, o ar. Ia pisando em ovos, agora pisava em vidros.
Decidiu então desenhar e construir a porta, com toda a força que lhe sobrava e, por mais que lá fora o ar já não fosse tão doce, iria se levantar da pequena porta e se acostumar a vida nova um dia já vivida. Não tinha sido uma decisão fácil, afinal, decidir não era das melhores coisas que fazia. Morria de medo do outro lado ser melhor, de abdicar de um para ficar com o outro. Mas aí se lembrava que sempre sabia o era melhor para si. E decidiu.
Pegou o lápis preto (já não havia mais lápis colorido lá dentro), a pá, a tesoura, e foi desenhando, construindo e recortando sua nova porta de saída. Há que ter muita vontade pra se construir uma porta nova. Talvez ela não tivesse tanta coragem assim, o que tinha era medo de se afundar lá dentro, cada vez mais.Tão fundo, tão fundo, que uns dias ela até esquecia o quão ruim era ficar lá dentro.
Mas uma brisa soprava no rosto e lhe mostrava, como quem diz: "ei! olha aí, não vá ficar por aí muito tempo!" E lhe jogava um punhado de areia nos olhos, para que o susto e a dor a levassem de volta a realidade.
Pronto. Porta desenhada, construída e recortada ela podia então sair. Foi chegando perto, chegando perto e... Opa! Bateu um vento e lhe arrastou de volta para dentro. Encostou a porta. E, como ela não era dessas que desistia fácil, foi de novo ao encontro da nova maçaneta. Abriu, se agachou, se espremeu, se arranhou e saiu.
Como era grande o mundo lá fora! - Pensou. Porque ficar tanto tempo presa num cantinho quando há tanta coisa para se ver?
E foi andando, andando, vendo ruas, avenidas, parques, árvores, praias, carros. Opa! Ai! Cuidado! Tanto tempo num pequeno quarto e não sabia mais andar por entre os carros, as árvores, era como se tudo fosse uma massa cinzenta. Não sabia mais por onde ir. Estava perdida.
Até que alguém lhe estendeu a mão, dizendo: " Vem, eu te ensino de novo!" Mas a mão estava longe. Ela teria que caminhar, se orientar, mas vendo a mão ao fundo, sabendo que quando chegasse lá, alguém iria lhe ajudar. E foi. Caminhando, caminhando devagar, olhando para os dois lados, andando na ponta dos pés. Mas quanto mais andava, a mão mais se afastava, era como a linha do horizonte. E então ela percebeu que a mão era apenas uma ilusão de ótica, uma forma de ajudá-la a se reerguer e reaprender a andar por esse velho mundo novo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O sorriso mais doce de todos

Desceu do onibus em direção a rua. Andava como nas nuvens, num campo de margaridas ou numa estrada deserta. Queria guardar aquele sentimento pra sempre. Parou. Tinha medo que ele fosse indo embora conforme fosse andando em direção a sua casa. Não ia deixa-lo escapar. Poderia viver uma vida inteira assim. Chovia. Era noite.Queria olhar os pingos que caiam e iam sendo iluminados só pela luz do poste. Só ali se sabia que chovia. Parou novamente. Olhava os pingos da chuva. Não se importava mais com o resfriado. Sò queria deixar-se sentir. Deixar bater, deixar vir. Os pingos iam caindo, música tocando. Aquele sorriso mais doce de todos. Não podia deixar escapar, ir embora. Os minutos pareciam uma eternidade, e ela poderia passar todos eles assim, sem pressa, sem a vida correr. O sorriso mais doce de todos lhe vinha a mente. O coração batia, saltitava. Não queria deixar de sentir. Mesmo que não fosse verdade. Mesmo não sendo paixão vivida, só paixão sentida. Paixão sentida também tem a sua valia. Faz a gente sonhar, sonhar sem precisar acordar. E ela só queria continuar a sonhar, com o sorriso mais doce de todos.

domingo, 9 de novembro de 2008

"Palavras apenas Palavras pequenas Palavras, momentos Palavras, palavras, palavras, palavrasPalavras ao vento" Cassia Eller

verbetes

Cumplicidade - s.f. Ato ou qualidade de cúmplice; participação num crime, num delito. / Conivência, entendimento.
Companheirismo - s. m., lealdade entre companheiros.
troca - de trocars. f., acto ou efeito de trocar;permutação; escambo.
trocar - dar uma coisa e receber outra em paga;permutar;tomar uma coisa por outra;
partilhar - v. int., tomar parte em; comparticipar.
amizade - do Lat. * amicitates. f., afeição;amor;boas relações;laço cordial entre duas ou mais entidades;dedicação;benevolência.

É demais?

domingo, 2 de novembro de 2008

Estudo de canto, piano, eduação musical - 5000 reais
Faculdade de pedagogia - 7.200 reais
Pós graduação em Psicopedagogia - 6.000 reais

Ouvir a sua aluna perguntando para a mãe, em pleno domingo a tarde: "Mamãe, quando vou voltar aqui?" - não tem preço!

É por essas e outras que eu amo a minha profissão!

sábado, 1 de novembro de 2008

Sei que estou em falta. logo volto.