domingo, 1 de setembro de 2013

Desenho apagado


Na folha quadrada e branca
Desenhou um castelo de madeira
Pintado de branco 
Com torres altas
Com portas abertas.

Foi desenhando lagos, patos,
árvores e flores coloridas. 

Mas eis que o desenho não cabia no Espaço,
Não cabia no Tempo
Pra Vida, ainda não era hora. 
Quem deu ordens de desenhar tantas cosias?

E desatou a desconstruir o que a Vida não tinha pedido.
Foi apagando os traços das torres,
Tirando o azul do lago,
O verde das árvores e arrancando as flores uma a uma. 

A Vida não deixou que ficasse uma só grama no papel. 
Quem era aquela a lhe desafiar? Colocando flores onde ela queria pedras?
Pintando lagos onde ela queria terra?

Por último a Vida mandou fechar as portas do castelo. E que ela só abrisse quando mandasse. 
Afinal, era preciso proteger o castelo e era Ela que dizia quando abrir as portas. 
Mas a menina queria abrir todas as portas, os vidros, as janelas. Queria grama e flores coloridas. 
Mas com a Vida não se discute. Numa rajada de vento fechou as portas. 

E a menina obedeceu, na esperança que o Tempo as abrisse. 

Pressa

Quis apertar o passo
Atar depressa o laço
Quis escapar do compasso

Queria ir mais depressa
Sair do espaço
Traçar a linha reta

Esqueceu que não sabia
Daquilo que mais queria
Esqueceu-se que da reta não sabia
Só conhecia linha torta

E chorou por dentro
Com medo dos caminhos tortos
Com medo dos atalhos mortos
Aqueles que não levam a lugar nenhum.

Tinha pressa
Tinha sede
Tinha medo.