domingo, 24 de fevereiro de 2008

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Há Tempos - Renato Russo

Parece cocaína mas é só tristeza, Talvez venha a ser
tarde.
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão
E o descompasso e o desperdício herdeiros são
Agora da virtude que perdemos.
Há tempos tive um sonho, não me lembro
não me lembro...
Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso.
Os sonhos vêm e os sonhos vão
O resto é imperfeito.
Disseste que se tua voz tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira.
E há tempos nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
Há tempos são os jovens que adoecem
Há tempos o encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
E só o acaso estende os braços
A quem procura abrigo e proteção.
Meu amor, disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem
Ela disse: "Lá em casa tem um poço
mas a água é muito limpa."

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Para alegrar a alma...

O Eco
Cecília Meireles

O Menino pergunta ao eco
Onde é que ele se esconde
Mas o eco só responde: "onde? onde?"

O menino também lhe pede:
"Eco, vem passear comigo!"

Mas não sabe se o eco é amigo
ou inimigo
Pois só lhe ouve dizer:
"Migo"

Cantiga da Babá
Cecília Meireles

Eu queria pentear o menino
Como os anjinhos de caracóis.
Mas ele quer cortar o cabelo,
porque é pescador e precisa de anzóis

Eu queria calçar o menino
como umas botinhas de cetim.
Mas ele diz que agora é sapinho
e mora nas águas do jardim

Eu queria dar ao menino
umas asinhas de arame e algodão
Mas ele diz que não pode ser anjo,
pois todos já sabem que ele é índio ou leão.

(Esse menino está sempre brincando,
Dizendo-me coisas assim.
Mas eu bem sei que ele é um anjo escondido
um anjo que troça de mim.)

Poemas retirados do livro "Ou Isto ou Aquilo"

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Acabou o nosso carnaval

Antigamente carnaval pra mim era só aquela semana em fevereiro em que as escolas de samba saíam todas coloridas pela avenida disputando um campeonato e um standarte de ouro. Eu, quando criança e adolescente, junto com meus irmãos e primos, me refugiava, contra a minha vontade, no sítio de minha família tentando assistir aos desfiles, principalmente ao da Mangueira, minha escola de coração. Tentava pois, antes do final da primeira escola estávamos lá, todos dormindo na santa paz que uma casa de campo pode proporcionar.
Dizíamos sempre que iríamos acordar de madrugada para ver o desfile da Mangueira, escola de quase toda a família com exceção de um primo que torcia fervorosamente pela Mocidade. Ele sim acordava no meio da noite para assistir o desfile de sua escola. Na quarta feira de cinzas a tarde estávamos todos la, sentados na sala da televisão munidos de biscoitos de chocolate e sorvete de maracujá feito pela tia avó, prontos para assistir à apuração e descobrir se ganhava mangueira ou mocidade. Independente do resultado tudo terminava com uma chuva de confetes na varanda e um pulo na piscina. O tempo foi passando, a gente foi crescendo e alguns de nós não iam mais passar o carnaval no sítio. Eu durante muitos anos me rendi a isso e a cada ano levava uma amiga para fazer compania, afinal o carnaval de rua de Piraí é imperdível, que nos digam as amigas companheiras.
Há 3 anos atrás descobri o carnaval do Rio, o carnaval de rua. Alguns dizem que já descobri tarde pois o carnaval do Rio não é mais como era antes, foi tomado por playboys e patricinhas que antes passavam o carnaval na bahia, os blocos já estão lotados e muitos foliões são alvos de assaltos. Fato é que há 3 carnavais saio pelas ruas fantasiada, munida não só de confetes como de alegria, disposição e porpurina. Fui descobrindo que o mais divertdo do carnaval não é simplesmente ficar no bloco, encontrar pessoas e sair da linha normal do dia a dia. O mais divertido do carnaval é se fantasiar, poder sair na rua com cores que não usaríamos jamais para ir trabalhar, é colocar a fantasia de pierrot, de colombina ou de empregada doméstica sem vergonha nenhuma e sair, andando pela rua.
O carnaval é a fantasia que vira realidade, a alegria que toma conta das ruas (atualmente de quase todas elas) é o momento que a gente para só pra cantar as marchinhas e os sambas há anos no nosso inconsciente coletivo. Carnaval é passar dias e dias na cabeça com "bandeira branca amor, não posso mais pela saudade que me invade eu quero paz" ou então com "quem não chora não mama segura meu bem a chupeta, lugar quente é na cama ou então no bola preta". É só nessa pequena época do ano que cantamos todas essas marchinhas compostas há tantos e tantos anos atrás, sem letras complicadas ou melodias complexas, são simplesmente marchinhas de carnaval.
São 4 dias de pura folia e mesmo aqueles que não gostam acabam se rendendo e cantando as marchinhas, parando na rua para ver os blocos, e se enriquecem com a alegria do povo.

"Acabou o nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções..."

E que venha o do ano que vem!

domingo, 3 de fevereiro de 2008

fotos!

Castelo de São Jorge
Bocão!

Oceanário de Lisboa


Numa cave de vinho



O Porto




Mais porto
























A volta

A volta pro Rio de Janeiro foi um tanto quanto conturbada... Talvez eu, nas minhas andanças européias com tanta saudade de casa e dos que estavam aqui, não imaginasse o quanto a vida estaria para mudar... Mas mudou. Dizem muito que é uma fase de mudanças, que Deus fecha uma porta e abre uma janela, que é melhor que as mudanças aconteçam agora; e todas aquelas outras frases que a gente conhece pra consolar aqueles que passam por um turbilhão inesperado.
Fato é que uma viagem como essa muda muito, não só a nossa cabeça como o nosso próprio jeito de ser e estar no mundo. Ando me deparando com uma pessoa que não conheço muito bem, ando me estranhando com ela, mas aos poucos vou me acostumando e gostando da minha própria compania.
Esperava chegar no Brasil, matar as saudades de todos e naõ sentir mais aquela solidão imensa de pessoa sozinha em país desconhecido, com língua desconhecida, tendo um mundo inteiro a conhecer pela frente e tendo que enfrentar um dia de cada vez. Balela. Cheguei aqui sozinha, num pais conhecido, fato; mas ainda tendo um mundo inteiro a conhecer e tendo que enfrentar um dia de cada vez. A grande descoberta, que parece uma obviedade, é que nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e enfrentamos as adversidades sozinhos . A grande descoberta é de estar sim sozinho, de ter uma vida única e de ser o único responsável por ela, sendo claro ajudado pelos amigos e família; mas viver? a gente vive, sente, sofre e anda sozinho.
É como se minhas andanças pela europa tivessem sido uma amostra maior e mais difícil do que se vive aqui todo dia, com a vantagem de ter lindos lugares a conhecer, muitas coisinhas a comprar e muitas fotos para tirar.
Algumas coisas me foram tiradas pela vida desde que cheguei, coisas que passam, coisas que realmente não eram minhas e que por isso meforam tiradas. Mas fica a certeza de que aquilo que eu vi, vivi e venci e que as fotos não mostram; ah, isso ninguém me tira.
Ninguém me tira a felicidade de ver o Davi em tamanho maior do que o real pela primeira vez. A estonteante imagem da Torre Eiffel em Trocadero. Olhar para o castelo de Chenanceau, debaixo de um temporal e imaginar reis e rainhas, príncipes e princesas passando a cavalo por ali, vivendo histórias que só vemos em filmes. As lindas amizades que fiz e que, por pouco que me acompanhassem pela viagem, são pessoas que vão ficar pra vida inteira. A felicidade de chegar em Portugal e ser entendida assim, de primeira, sem ter que ficar pensando durante alguns minutos. Chegar na Eurodisney e me sentir criança denovo! Andar no dumbo e realmente me divertir com ele subindo e descendo!! Aprender a andar de metro em Paris, a comprar o ticket de onibus antes de entrar nele para não ser expulsa, andar pelas ruazinhas da Itália e encontrar lindas lojas de brinquedos de madeira, ver as Ruínas de Roma e imaginar a história que se passou ali, comer pastel de belém em Belém, olhar a vista de lisboa de cima do castelo de São Jorge junto com o balé das andorinhas, passear por veneza num dia de sol, ver o por do sol lá de cima da PraçaMichelangelo em Florença, entrar na Basílica de São Pedro, andar por varias ruas pequenas e de repente dar de cara com um grande e inesperado monumento, andar de trem...conhecer depois de anos de espera, a Escola da Ponte e ver que ela é realmente tão sensacional como se imaginava, ver que a Torre de Pisa é realmente torta mas mesmo assim permanece em pé! Descobrir que ficar só não é tão ruim como se pensava, que é uma questão de costume apesar da grande falta que faz saber que se pode ligar a qualquer momento para alguém querido. Andar pelas ruas de Paris no frio e deixar a fumacinha sair da boca! Se encantar com os peixes do oceanário de Lisboa, andar pelas ruas despreocupadamente sem medo da violência, ver novelas brasileiras em Portugal, conversar com senhorinhas sempre muito simpáticas, sair pelas ruas fazendo amigos emqualquer esquina, descobrir brasileiros em cada lugar, as casinhas de pedra na Itália, Assis e suas construções de pedra, o túmulo de São Francisco, Padova vazia com alguns moradores andando de bicicleta, falar françês, tentar falar italiano, tomar café no Sympatique e conversar com Yulssef todos os dias, passear pelas ruas de florença a noite, jantar num restaurante italiano em boa compania, jantar sozinha e tirar mil fotos de mim mesma, fotografar, fotografar, fotografar... Ver as ninféias de Monet ali, originais e em tamanho natual numa sala enorme, ver o quadro de Renoir Le Petit Filles au Piano, posar para um pintor em Momatre e congelar enquanto ele me desenhava, me sentir extremamente triste num momento e logo depois imensamente feliz de descobrir uma coisa nova, ver pinochios por toda a Itália, me descobrir forte e corajosa em cada nova etapa vencida. Isso meus queridos, não me pode ser tirado nunca. Continuo a procura da janela aberta, mas enquanto ela não aparece, me ilumino com as lembranças e as vivências.