domingo, 31 de agosto de 2008

Destinatários

Escrevo porque é meu escape. Escrevo porque necessito, porque se não escrevo vou amontoando uma bola de neve dentro de mim.
Não escrevo pra ser lida. Escrevo por mim e para mim. Alguns podem se perguntar por que então publico aqui, em uma via pública de acesso mundial, os meus escritos. Por que me exponho tanto, deixo transparecer tantas angúsitas, dores, felicidades, me colocando desnuda na frente dos que conheço e dos que nunca vou conhecer?
Porque, assim como li alguns, vi que aqueles sentimentos não eram só meus, que não era sozinha por esse mundo, que partilhava, no fundo das mesmas angústias, dores, inquietações e transformações de muitos. Lendo me senti uma entre todos quando antes me achava diferente, que pensava demais, que sentia de mais. Eu espero poder ser isso pra alguns, pra poucos, pra muitos, pra uma única alma que seja. Se, além de despejar minha bola de neve para que ela fique pequenininha e partilhar com o mundo aquilo que sinto; puder, com isso ajudar outros a fazerem o mesmo, meu trabalho já será mais do que completo. Assim como li Martha, Clarice, Anna entre tantos outros, posso ser lida por marias, elisas, danielas, marianas que vendo que não são únicas, sigam tentando se equilibrar nesta corda.
Esse blog não é para todos. É para aqueles que acreditam ser a vida uma corda bamba. Para aqueles que tem coragem de tentar atravessá-la. Para os que tem coragem de, olhando para fora, olharem para dentro. Para os que querem não vêem a vida destraidamente. Esse blog é para poucos. Nem melhores nem piores, simplesmente aqueles a quem a vida deu o dever de refletir,refletir às vezes com mais peso, às vezes não. Quisera eu poder desligar o botão que me faz pensar. Mas, como não posso, vou partilhando esses pensamentos com vocês, pra ficar mais leve, mais fácil, mesmo que seja me colocando em evidência. Transformo em arte aquilo que não consigo expressar de outra forma. Transformo em arte as angústias, os transtornos. Porque escrever é a minha arte. Escrever é minha forma de viver em paz.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Quando a gente faz muita coisa ao mesmo tempo, acaba não fazendo nada direito.

domingo, 24 de agosto de 2008

As mães nunca deviam poder ficar mal humoradas.

Nua, crua e sem rodeios

O fim de semana me traz o vazio, a obrigação, o medo. Tenho que me divertir,ter compania, espairecer da rotina da semana.
Vejo os casais, as mãos dadas, os cinemas, os passeios, os sorrisos.
Me percebo só. Esperando que o fim de semana acabe para poder voltar a rotina. Acho que sou mais feliz durante a semana do que nos dias de descanso. A única vantagem do meu domigno é poder acordar tarde e ter meu querido almoço com a avó. De resto, me sinto só.
As amigas namorando, as que não estão acabam tendo seus compromissos. Me sinto meio perdida, no meio do mundo onde se vive em par. Me sinto inacabada, imcompleta, faltando um pedaço, algo que encaixe. Compania. Quero compania eterna.Pra me sentir inteira. Alguém pra ir ao cinema, pra falar de coisas banais, pra ir ao Jardim Botânico, pra ir à praia, ao café, ao almoço, pra jantar, pra ficar em casa, pra não faze nada. Pra andar de mãos dadas, pra fazer carinho, pra olhar nos olhos. Pra sorrir com a cumplicidade de quem ama, pra dormir junto, acordar junto, pra ver o mundo com olhos diferentes.
Quero um amor pra toda vida, ou pra uma semana, um mês, um dia. Quero um olhar apaixonado, um beijo roubado, uma música.
Quero um alguém de verdade, livre, sem medo de ser, de viver, do fim.
Sonho com isso, como se fosse dançar sobre as nuvens, andar no espaço, comer algodão doce.
Quero um colo pra chorar, uma cama pra sonhar, um abraço sem esperar.
Não quero pela metade, quero tudo. Não quero meio termo, quero oposto. Quero quente, morno não serve.
Os domingos seriam mais lindos, mais floridos, mais românticos. Os sábados teriam menos cobrança, menos medo, mais leveza.
Quero um amor pra toda a vida. Quero filhos, família, cachorro, casa. Mas agora, agora nesse momento, só quero o amor. A noite de sábado, o cinema no fim da tarde de domingo, as flores inesperadas deixadas na portaria sem nome, os quatro pés na areia, alguém pra cuidar, alguém pra me cuidar. O telefonema antes de dormir, o bom dia ao acordar.
Alguém pra dividir os segredos, as risadas, os desafios. Alguém que acredite, que me entenda, me admire, me ouça. Quero ouvir, entender, acreditar, admirar também. Quero trocas.
A vida é muito pesada pra ser vivida sozinha. Precisa ser dividida, contada, partilhada com alguém que se ame.
Por sonhar com tudo isso, talvez sonho impossível, acabo me contentando com o que vem, o que aparece, o que de longe me lembra o sonho. E vou vivendo, mesmo sabendo que não é o todo, que não é oposto, que não é inteiro. Vou comendo as migalhas como se a mim ñão fosse possível ter um prato inteiro. Não se trata do que se deve, e sim do que se é, do que se sente, do possível, do real instantâneo. Não estou aqui pra dizer o que gostaria que fosse. Se assim fosse esse blog não teria esse nome. A mulher moderna-bem sucedida-sozinha-bem resolvida-solteira-sem expectativas nunca diria que vive na corda bamba. Pois eu vivo, e atualmente ando mais pro chão, do que pra corda.
Cansei. Quero colo.

A culpa é de quem?

Quando a culpa é do outro é mais fácil. A gente fica com raiva, diz que não merece, fica confortável no papel de vítma, acolhida, sem culpa. Acho até que culpa é uma palavra muito forte pra isso. Mudaria pra responsabilidade. Quando a responsabilidade é do outro, apesar de duro, a dor é mais leve. É única, é jogada pra fora, projetada no outro.
Agora, quando nós mesmos sabíamos o final do filme e mesmo assim, resolvemos assistir sabendo que ofinal não é agradável aos nossos olhos... aí tudo parece mais pesado. É quando os outros dizem: eu sabia, eu avisei, você sabia. Aí a questão é dupla. A gente sofre pelo que está passando e pela culpa do que está passando. Além de machucada, parece que cutuca a ferida dizendo: "está vendo? Eu sabia que ia ser assim, ficar assim e mesmo assim fui pagar pra ver."
FIco me perguntando se a gente paga pra ver pra testar as próprias forças ou pra testar o outro. No fundo as duas coisas. Testamos o outro pra saber até onde vai a nossa força sobre ele. Até onde ele se transforma a partir de nós, o quão influentes somos nós . E aí vira tudo uma questão de ego. Ego imenso, ego que se quer ver expandido, e no final das contas acaba destruído. É uma medição de forças.
Ou seja, você tentou provar pra você mesmo algo, lutou, lutou e acabou perdendo contra você mesmo. Mas que briga é essa? Praticamente um auto-boicote! Que país é esse que trava uma guerra consigo mesmo, sabendo que vai perder de qualquer maneira?
Como nos machucamos por besteiras... por vaidade, por medo da solidão, por comodismo... sem entender que quando achamos que estamos nos livrando de um mal, estamos é nos afundando mais ainda. É uma troca ruim. Uma troca ingênua e superficial. Uma troca que não enxerga o futuro e não reflete o passado.
A gente sofre pelo outro? Besteira. Sofremos por nós mesmos. Por causa de, por consequência de. É um ego ferido, uma dor não evitada, um sofrimento desnecessário, uma paz roubada. Tudo por nossa conta. Difícil carregar isso tudo. E parece que o todo, que deveria ser parte, toma uma dimensão enorme frente à todas as outras partes da vida. A parte vira todo, quando o todo não deveria se repartir. Mais uma vez, volto a querer ser inteira, equilibrada.
Mas esse é outro assunto.

sábado, 23 de agosto de 2008

É fácil falar.

Texto partido

Por que nos sujeitamos a tantas coisas? Por que deixamos nos levar por ilusões tão claras, tão frágeis que se despedaçam ao primeiro tremor? Por que nos enganamos e nos deixamos enganar tão facimente? Por que nos saciamos com pouco? Por que estamos sempre tentando mudar o outro ou esperamos que eles mudem e se encaixem no nosso mundo?
Por que é tão difícil dizer não ?
Não consigo saber o que pode ser mais difícil: se deixar levar ou se conter, se proteger. O racional cansa, o passional destrói. No fundo no fundo, estamos sempre esperando que a situação mude, que as coisas melhorem, que ele ame, que ela fuja.
Eu tenho uma enorme dificuldade em dizer não. às vezes por vergonha, outras por gentileza, mas a maioria delas simplesmente porque não consigo. Não consigo desfazer as coisas, impor minha vontade, fazer do meu jeito; por mais que a minha própria felicidade esteja em jogo. Sozinha não consigo. Preciso que o outro diga por mim, que alguém feche a porta, que ele se mantenha aonde está. Sozinha não consigo.
E chega. Chega a um ponto que o sim não é por vontade de dizer, mas por impossibilidade de dizer o não. Não é uma escolha. É falta.
Preciso me livrar e não consigo. Preciso sair e deixar uma fresta aberta, mas no fundo quero me manter lá dentro com a porta fechada. Lá dentro não tem luz.
Me quero por inteira, me sinto como pedaços. Um pedaço mais interessante que o outro. Os outros pedaços, por mais pedaços que sejam, são pedaços meus. E tão meus que gosto tanto deles como dos outros, afinal sou inteira. Mas sou vista aos pedaços. E o que fazem com os outros pedaços? Por que eles não interessam? Talvez eu mesma me veja aos pedaços. Texto disconexo.Corpo e mente separados. Sexo e amor em opostos.
Eu sou uma, e como inteira quero ser amada por inteira. Odiada por inteira. Cobiçada por inteira. Entendida por inteira. Não quero só uma parte, o pedaço mais aparente, mais bonito. Quero tudo.
De repente é melhor se colocar por inteira . Botar as cartas na mesa. Entregar o jogo, mesmo que seja perdido.
O barco está indo longe demais. Hora de voltar pra casa.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

As vezes a gente confunde paixão com vício. Vício de ter alguém pra falar todos os dias e contar as novidades, vício de ter alguém com quem sair, rir e se divertir; vício de carinho, atenção, sexo.
Ele pode não ser o amor da sua vida, mas está ali, todos os dias, mesmo que virtualmente. Vocês se falam diariamente, discutem sobre o que passa na TV, o que leram no jornal, o que comeram ontem.
Ela pode não ter nenhuma das qualidades que você quer numa pessoa para se relacionar, mas vocês conseguem conversar sobre os seus dia -a -dia como se eles fossem um só. Ele te entende como ninguém. Ela te dá a atenção que você precisa. Ele te admira. Você o entende, o instiga, o desafia.
E esse vício vai os consumindo até não saberem mais aonde estão. Como passar um dia sem falar com ele e saber das novidades? Como não telefonar pra ela e não convidar pra te fazer compania? E assim vão vivendo, sem bem saberem pra onde vão.
Ela com medo. Ele também, mas se fingindo de seguro. Ele gosta do seu coque. Você acha graça em tudo que ele diz. Acha engraçado tentar entender porque dele, da sua vida, da sua arte.
Dependência de compania, de outro, por mais que esse não seja o outro que você quer.
E depois de travar essa rotina estranha, que nem mesmo queriam, acabam se perguntando como chegaram tão perto estando tão longe.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"Ninguém vive a paixão inpunemente." Clara Averbuck

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Lágrimas nos olhos à uma, duas três da manhã? Emoção às dez da noite? Me transformaram numa mantega derretida? Não. Sinal das olimpíadas.
Não tenho mais medo do rumo que o barco toma. Acho que estou até começando a gostar de não ter destino certo pra chegar.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Mulher é bicho burro.

domingo, 17 de agosto de 2008

Estátua de Sal

Me sinto refém de mim mesma. Presa às minha próprias amarras, imóvel diante da armadura que eu mesma me coloquei. Construo castelos, barreiras, imensas muralhas para nada sair do ponto, para tudo ficar no lugar. Faço isso pra me sentir segura, mestre e dona de mim mesma, mas acabo me sentindo sufocada, presa e inerte à algemas que eu mesma me coloquei. Me sinto tentando respirar, nadando para sair de lá do fundo do mar e alcançar a superfície. Não consigo. Estou presa na proteção. Contida dentro dos muros. Tudo programado, tudo planejado. Um ponto sequer não pode sair do lugar. Tenho medo de desmoronar. Acabo intacta, imóvel, como uma estátua que não respira.
Quando vivia uma religião, me presa, precisava de liberdade e larguei tudo em busca de um próprio vôo, sem regras, sem doutrinas, sem culpa. Não dei conta de total liberdade. A liberdade é desesperadora em alguns momentos. Saber que se pode fazer tudo dá medo. Acabei inventando minhas próprias regras, pra sossegar diante de toda aquela nova liberdade. Resultado: continuo presa, entre doutrinas e dogmas. Que são meus. Não foi me imposto por ninguém, a não ser por mim.
Assim a vida se torna pesada, pouco divertida, tensa e rígida.
Queria poder transitar diante da vida, cedendo um pouco aqui sem medo, avançando para lá com ousadia. Equilibrada. Sempre equilibrada.
Quando resolvo me livrar das regras, seguir a intuição ou o coração, como se diz por aí, acabo caindo do outro lado do rio. Fico vulnerável demais, e isso me incomoda. A sensação é a de que vou ser levada pelo rio para um lugar que não quero ir, e de onde não vou poder voltar sem alguma carga de sofrimento. Gostaria de ser um barco a vela (com um motor instalado para qualquer problema ocasional), onde eu pudesse controlar o destino do barco, de acordo com o vento que sopra. Claro que para isso eu teria que ser uma grande velejadora, forte para segurar a vela, corajosa para soltá-la.
Queria poder acalmar o mar em dia de tempestade. Ficar dentro de casa, só olhando e esperando ela passar. Não gosto de estar no olho do furacão. Não sou boa velejadora. Não tenho muita força pra controlar sozinha, não tenho ousadia para deixar o barco ir até onde o vento levar. Já deixei, e fui parar em terra estranha, terra seca.
Não tenho coragem pra fazer o barco parar, no fundo gosto do movimento que ele faz e de para onde ele me leva. Parece que só consigo avistar um caminho, uma terra firme, quando em volta há dezenas delas. Acabo me deixando levar. A terra é seca, árida e não dá frutos. O chão é de pedras, e por mais que se tente andar por entre elas, acabo me machucando com uma ou outra no caminho.
Quero navegar o barco, leva-lo para outro lugar. Mesmo que seja no meio do mar, sem terra firme, mas onde as ondas sejam calmas, onde não haja tempestade, onde o sol brilhe. Mas o barco teima em me levar para outro lugar...

??

Porque tomar uma decisão simples às vezes se torna tão difícil?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A roda,o caminho e a vida


Tem coisas as quais a gente pode, um dia, não querer mais.

Não precisar mais, não ter mais que viver. É bom chegar num ponto onde a gente pode escolher, onde não se sente preso a um sentimento, a uma necessidade. É libertador poder escolher pra onde se quer ir e principalmente aonde não se quer ficar.

É bom ver as mudanças que o tempo e as experiências trouxeram. Se deparar com uma situação nova e ver como se poderia agir de um jeito e agora se age de outro. A gente estranha não ser mais aquela pessoa de antes, não se sentir mais presa e obrigada a fazer certas coisas. É difícil se desfazer de coisas que eram realmente nossas. Difícil é viver uma coisa diferente, mesmo que seja melhor. Parece que não nos reconhecemos. "Onde está aquela outra que estava aqui antes?" "Não era assim que eu agia. Não era assim que eu sentia." Mas, mesmo não nos reconhecendo não dá pra viver como antes, pensar como antes, agir como pessoa antiga, vai contra a nossa nova e denovo nossa, natureza.

São novos valores, novas necessidades e outras necessidades que ficaram pra trás. Não precisar de algumas coisas espanta. A liberdade dá medo. Até se acostumar com o que se é agora...

As coisas que a gente vive mudam a nossa vida. Algumas nos deixam mais protegidas, mais duras, mais céticas. Outras nos fazem ter o pé atrás, não dar tanta importância, dar valor a outras coisas, deixar passar. É por isso que viver é importante. É preciso deixar a roda viva da vida passar, nos transformar, mesmo que naquele momento a gente não se de conta de tamanha mudança. Só depois, como uma criança que aprende e põe à prova no brinquedo novo, vamos entender o quanto sentimos, o quanto deixamos de sentir, o quanto nos deixamos transformar.

Mesmo assim, continuamos voltando a alguns mesmos erros, às vezes andamos pra trás, nos pegamos vivendo um pouco como outra que já tinha sumido. É assim mesmo. Como já dizia Piaget, grande inspirador desse Blog, novas estruturas são construídas em cima de estruturas antigas. E é por isso mesmo que a gente vai e vem, dá um passo pra trás, dois pra frente, num eterno espiral.

Não sem uma pontinha de tristeza, por deixar o já conhecido, o já querido e o já cativo. Não sem uma pontinha de medo, do novo, do transformador, do desconhecido.

As vezes nos achamos mais espertas e nos deixamos enganar, assim, mesmo que por querer. Tem sempre algo no fundo da alma que diz o que nos faz bem, o que vai fazer mal. Em alguns momentos dá pra ser forte, resolvida, convencida e abrir mão. Em outros queremos mesmo é nos deixar levar, cansadas de lutar. Mas o fundo da alma dá um jeito e nos mostra o caminho dentro de nós, aquele que realmente queremos e podemos seguir.

Se todos conseguissem olhar pra dentro e ver, sem medo,o caminho a seguir...

domingo, 10 de agosto de 2008

Feliz dia dos Pais

Feliz dia Dos Pais pro meu pai!
Que às vezes é pai,
às vezes é filho,
às vezes é retrato,
quase sempre fotógrafo!
Hoje cozinheiro
Amanhã motoqueiro!

Pai de longe
Pai de Perto
Pai internético

Pai de carona
Pai de direção
Pai de Pai

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Equilibrista e Professor

Tenho um prazer imenso em ensinar, em ajudar a descobrir a ver o equilíbrio-desequilíbrio-reequilíbrio. Sou completamente piagetiana. Acredito que estamos sempre nos desequilibrando, ou então não teria sentido o nome desse blog.
Adoro ver as descobertas das pessoas, me encanto profundamente com a aprendizagem ,mas gosto demais de analisar e entender os outros.
Nem sempre tenho sucesso nisso. Uns se entendem melhor, outros são. Mas eu fico ali tentando desvendar as ações, as palavras, o que tem por trás delas, a verdade escondida, o sentimento reprimido.
E vivo fazendo isso comigo. Nada é em vão, nada é simples e puro. Tudo tem uma razão, um sentido por trás e, mesmo às vezes, o sentimento se mostrando ali, fervilhante e vivo, eu encontro nele uma razão, para que ele se torne menos vivo, mais seco. Talvez proteção demais, já que depois das quedas o equilibrista passe a prestar mais atenção nos passos. Talvez mais auto-conhecimento. O equilibrista já sabe o peso de seu corpo, já sabe as quedas, as falsas quedas e já controla o medo de ir andando pra frente.
O equilibrista pensa e repensa seus movimentos, por mais que não tenha tempo pra isso, por mais que queira chegar logo ao fim da corda. Ele já usa esparadrapos nos pés, joelheira, capacete. Depois das quedas ficou mais prevenido, não tem medo de cair, mas precisa cair com proteção.
Mas de vez em quando ele tem vontade de tirar tudo. Joelheira, cotoveleira, barreira, armadura e simplesmente correr pela corda,até o fim pra ver onde vai dar. Cair, levantar ou mesmo chegar ileso ao fim da corda.
As vezes depende do fim da corda. As vezes do meio. As vezes do chão.
A cada equilíbrio novo ele se sente mais forte, mais dono da sua corda, mais parte daquele mundo circense.
O equilibrista é de carne, osso, sente dor, fome e frio. Sente medo. Mas vive na alegria. Andar na corda é seu trabalho, é a sua vida.Não tem como não amar aquilo que faz, não há percalço que o faça desistir. Uma quedinha aqui, outra ali, mas ele volta e começa tudo denovo.
Mais feliz ele fica ainda em ajudar os outros a atravessar a corda. Em ver e enxergar os desequilíbrios de outros, que, em cima da corda não conseguem. Em fazê-los enxergar que é olhando pra dentro que se anda pra frente. Que o equilíbrio é interno e não externo. Que o medo de se ver, o medo de cair, só atrapalha o ofício.
Momento maior de felicidade é ver um equilibrista se entender, se reequilibrar, se conhecer pra continuar a andar, rumo ao fim da corda, que nunca termina, sempre se transforma.

domingo, 3 de agosto de 2008

Mulher de pouca fé

Sofro de falta de esperança, de falta de fé. Sempre fui uma pessoa bem religiosa, apesar de de uns tempos pra cá ter me desligado das doutrinas. Há pouco descobri, que depois de tanto tempo frequentando a igreja, rezando, acreditando e sentindo mesmo a presença de Deus, era (e ainda sou) mulher de pouca fé.
Não tenho a liberdade e nem a confiança de deixar a vida fluir para ver o que ela me trás. Tenho que controlar tudo, prever tudo. Saber o que fazer hoje, amanhã, depois, daqui a 10, 20 anos. Tenho medo de deixar Deus ou a vida se encarregarem de tudo e, como numa festa de aniversário que nós não organizamos, que eles se esqueçam dos detalhes que eu mais gostaria.
Planejei tanto a minha vida. Desde que me entendo por gente, vivo planejando. Planejava o presente, o futuro. Queria estar casada aos 23, com filhos aos 25, ser bem sucedida profissionalmente aos 30. Verdade seja dita, nada disso aconteceu. Não sou casada, não tenho filhos, tenho 25 anos e ainda tenho a vida profissional longe de ser bem sucedida. A isso responsabilizo o fato de não ter fé na vida, de não ter fé em Deus. Talvez ache que eles tenham me esquecido ou que programaram pra mim algo de que não vou gostar. Ás vezes chego a achar que eles planejaram mim uma tia solteira, daquelas que vive pra profissão, como vejo em muitas Pedagogas que viveram pras suas escolas e alunos. E isso, isso eu não quero. Vivo brigando com aquilo que acho que o destino está reservando pra mim. Não sei deixar tudo fluir, não sei deixar nada acontecer, e esse papo de que: "uma hora você encontra", "quando menos procurar aparece" e "alguma hora aparece a pessoa certa" não cabe em minha desconfiança total dos desígnios divinos.
As vezes me torno amarga, outras tenho inveja, recalque, na maioria delas fico ansiosa e triste. Como se eu tivesse que brigar pela minha felicidade, como se tivesse que resolver tudo antes que o destino viesse e tomasse a sua decisão, fazendo da minha vida algo que nunca quis.
Infelizmente é assim que penso, é assim que me torturo, é assim que tento não viver. Não sei se tento não viver ou se simplesmente tento esquecer que a vida pode estar planejando pra mim algo que não é do meu desejo. Queria ter o meu destino em mãos, e acho que só vou passar a acreditar nele quando tiver vendo e vivendo, ali na minha frente, tudo aquilo que sempre sonhei.

"Mas como é bonito o inseto (esperança): mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la" Clarice Lispector, Uma Esperança