domingo, 28 de setembro de 2008

Só e sós

Impressionante ver que, enquanto algumas pessoas lutam para aprender a viver sozinhas, gostar de sua própria compania, entender que tem que ser inteiras para se dividir com o outro(e se fazerem inteiras); outras perdem isso com uma facilidade que amedronta.
Vejo ao meu redor lindas moças que parecem não gostar mais de sair sozinhas, não dormem mais sem a presença de seus namorados, não fazem mais programas por elas, para elas, com as amigas.
Deixam de ser elas, mulheres, e passam a ser acompanhantes de seus companheiros (ou companheiras). "Ele não quer", "ele não gosta", "ele prefere assim". Uma certa irritação toma conta de mim quando escuto essas expressões. Não sei se é por ter lutado muito (e ainda estar lutando) para viver só, gostar da minha compania e não depender de nada e de ninguém. Não sei se é porque sinto que, ouvindo essas frases, me ligar a alguém fosse perder toda essa luta (que foi e ainda é intensa).
De qualquer maneira acho que deve (e tem que) existir um lugar do meio, um caminho central. Ter companheiros não significa ter um privilégio na vida, é só mais uma maneira de estar no mundo. Uns estão sós (e são de todo mundo) e outros escolhem uma compania para viver.
Ter uma pessoa ao lado não é ter uma prioridade na vida, todos temos prioridades e devemos colocá-las numa ordem sensata, para que não nos percamos em meio a vida ou ao chão que se abre quando uma delas cai por terra.
Antes de se partir, é preciso estar inteiro. Para dar um pouco de si, é preciso ter muito. Se temos pouco e dermos uma parte, não nos sobrará para usufruirmos. Ficamos assim pequenos, frágeis, vulneráveis.
É preciso viver o amor com parcimônia, bondade e serenidade para que não nos percamos de nós mesmos, para que não façamos do outro a prioridade; para que o chão não se abra.
É preciso ter amor antes de viver o amor. Não há de se dividir, há de se partilhar. Cada um inteiro em si, partilhando com o inteiro do outro. E não duas metades se fundindo.
Talvez ainda tenha muito o que aprender sobre a vida a dois. Mas antes é preciso aprender a vida em um. Inteiro.

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