sexta-feira, 12 de setembro de 2008

"Solidão é lava. Que cobre tudo. Amargura em minha boca. Sorri seus dentes de chumbo."
Paulinho da Viola

Já escrevi sobre a solidão nesse espaço. Esse tem sido um tema muito recorrente pra mim nos últimos tempos. Talvez porque eu tenha me dado conta da solidão humana, da solidão do dia-a-dia, da solidão inevitável.
Talvez por me perceber só e entender que só depende de mim mudar o estado que chamo de solidão. Gosto de estar só sabendo que poderia não estar. Não gosto da solidão não escolhida. Como sempre, não gosto da falta de escolhas. Solidão mesmo é aquela que não se escolhe. Que é porque é. Pode - se estar só na multidão, pode-se estar só em casa, pode-se estar só no infinito. Mas a escolha é a de ficar só. Estar só não é escolha. Estar só é um acontecimento não planejado, não escolhido e muitas vezes não desejado.
Não desejo a solidão. Estou imersa nela. E vou me percebendo a cada dia mais emaranhada nessa teia, que vai entrando, me desfazendo. É lava. Vai cobrindo tudo e, ou nos conformamos com ela, ou passamos o resto de nossas vidas tentando lutar contra. E a luta é dura. É cansativa, é longa.
Livros são bons companheiros, músicas são boas companias. Mas não riem junto conosco, não temos troca de olhares, de toques, de vida.
Livros, discos e filmes servem pra tapear a solidão, pra nos dar uma alegria momentânea frente aquele estado que não é escolhido por nós. Servem para engrandecer a alma, enriquecer o espírito, dar leveza. Mas não são de carne e osso. Pra quem fala, precisa-se ouvidos atentos, olhares serenos, mãos protetoras. Pra quem gosta de ouvir, basta uma presença, uma palavra, um olhar simples e já não há mais solidão.
Eu gosto de tudo. Gosto de gente, da humanidade, da troca de olhares, palavras, gestos. Gosto de falar(principalmente de falar), de ouvir, de cantar junto, de olhar nos olhos, de rir, de chorar.
Simplesmente não sei estar só.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pra completar, palavras de Victor Hugo:
"Moi, je vais devant moi; le poète en tout lieu
Se sent chez lui, sentant qu'il est partout chez Dieu.
Je vais volontiers seul. Je médite ou j'écoute.
Pourtant, si quelqu'un veut m'accompagner en route,
J'accepte. Chacun a quelque chose en l'esprit;
Et tout homme est un livre où Dieu lui-même écrit.
Chaque fois qu'en mes mains un de ces livres tombe,
Volume où vit une âme et que scelle la tombe,
J'y lis".