quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Palavras e foguetes

As palavras saíram como um foguete rumo a seu alvo destrutivo. Iam com toda força e ânsia de destruir tudo, não deixar pedaço sobre pedaço. Era movido pela raiva, não há aplacamento nem condescendência. As palavras haviam saído e não voltariam mais. Assim como o foguete. Atingiram seu alvo, chocaram, destruíram, fizeram justiça.
Precisava acabar com todo o motivo de sua dor. Precisava extinguir tudo aquilo que ameaçava sua existência e a impedia de viver com dignidade. Era uma guerra, uma luta na selva pela sobrevivência. Era como se a existência do outro lhe tirasse a vida, lhe ameaçasse os dias, lhe tirasse a paz. Era preciso se defender.
Mirou seu alvo com todos os seus foguetes, que assim como as palavras não voltaram atrás. Mas não havia porque. Ela não queria voltar atrás. Tinha sede de vingança, ódio escondido, macabro, precisava exterminar qualquer um que fosse que a ameaçasse; afinal, era a sua sobrevivência, sua existência que estava em risco. Assim como uma leoa defende sua vida e sua cria dos predadores, ela precisava defender a sua. E como todo bicho, pra se defender, atacava.
Não sabia de onde, do fundo, começava isso. Sabia da sua dor, do seu medo e do culpado de tudo isso. Precisava acabar com ele, antes que ele acabasse com ela. Era matar ou morrer.
Mas não era bicho. Era gente. E como gente que tem alma, sofre com as palavras ditas, com os foguetes que não voltam. Não gosta de caçar, de exterminar, o faz por sobrevivência, mas essa lhe custa a dor de matar, dor de culpa, dor de sofrimento do outro. Por alguns momentos não diferencia a sua dor do outro, suas vidas estão misturadas, enlameadas, indissociadas. E ferindo o outro em busca de vida, acaba ferindo-se, sangrando.
Era preciso saber onde começava. Era preciso dissociar, clarear, limpar, fazer duas vidas separadas. Era preciso compreender e sentir que aquela vida, separada da sua, não ameaça sua existência. Era preciso separar, desintoxicar, desaglutinar. Era preciso não precisar ferir, matar, lançar foguetes, defender a cria.
Era preciso sentir-se única. E assim as palavras não precisariam mais sair como foguetes.

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