domingo, 3 de agosto de 2008

Mulher de pouca fé

Sofro de falta de esperança, de falta de fé. Sempre fui uma pessoa bem religiosa, apesar de de uns tempos pra cá ter me desligado das doutrinas. Há pouco descobri, que depois de tanto tempo frequentando a igreja, rezando, acreditando e sentindo mesmo a presença de Deus, era (e ainda sou) mulher de pouca fé.
Não tenho a liberdade e nem a confiança de deixar a vida fluir para ver o que ela me trás. Tenho que controlar tudo, prever tudo. Saber o que fazer hoje, amanhã, depois, daqui a 10, 20 anos. Tenho medo de deixar Deus ou a vida se encarregarem de tudo e, como numa festa de aniversário que nós não organizamos, que eles se esqueçam dos detalhes que eu mais gostaria.
Planejei tanto a minha vida. Desde que me entendo por gente, vivo planejando. Planejava o presente, o futuro. Queria estar casada aos 23, com filhos aos 25, ser bem sucedida profissionalmente aos 30. Verdade seja dita, nada disso aconteceu. Não sou casada, não tenho filhos, tenho 25 anos e ainda tenho a vida profissional longe de ser bem sucedida. A isso responsabilizo o fato de não ter fé na vida, de não ter fé em Deus. Talvez ache que eles tenham me esquecido ou que programaram pra mim algo de que não vou gostar. Ás vezes chego a achar que eles planejaram mim uma tia solteira, daquelas que vive pra profissão, como vejo em muitas Pedagogas que viveram pras suas escolas e alunos. E isso, isso eu não quero. Vivo brigando com aquilo que acho que o destino está reservando pra mim. Não sei deixar tudo fluir, não sei deixar nada acontecer, e esse papo de que: "uma hora você encontra", "quando menos procurar aparece" e "alguma hora aparece a pessoa certa" não cabe em minha desconfiança total dos desígnios divinos.
As vezes me torno amarga, outras tenho inveja, recalque, na maioria delas fico ansiosa e triste. Como se eu tivesse que brigar pela minha felicidade, como se tivesse que resolver tudo antes que o destino viesse e tomasse a sua decisão, fazendo da minha vida algo que nunca quis.
Infelizmente é assim que penso, é assim que me torturo, é assim que tento não viver. Não sei se tento não viver ou se simplesmente tento esquecer que a vida pode estar planejando pra mim algo que não é do meu desejo. Queria ter o meu destino em mãos, e acho que só vou passar a acreditar nele quando tiver vendo e vivendo, ali na minha frente, tudo aquilo que sempre sonhei.

"Mas como é bonito o inseto (esperança): mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la" Clarice Lispector, Uma Esperança

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom, achar que as coisas acontecem ou não por conta de deus é meio bizarro. Nós, e mais ninguém, somos senhores do nosso próprio destino.

Acontece que nem tudo é simples como parece.

Nem sempre estamos prontos para cumprir objetivos que estipulamos para nós mesmos.

Nem sempre o que se planejou casa exatamente com o que já conquistamos.

Nem sempre o que se planejou é o que se quer hoje.

Enfim, muita coisa muda.

O importante é ter paciência e entender que não podemos ser tão cartesianos e achar que as coisas são rígidas. Engessadas. Muito pelo contrário. Nossos planos têm que ser maleáveis, se ajustar de acordo com nossos querer e poder, nossas vontades e capacidades. E isso é muito positivo!

Caso contrário, corremos o risco de chegar lá do jeitinho que tínhamos planejados e dizer: caramba... não é nada disso que eu quero...