quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Equilibrista e Professor

Tenho um prazer imenso em ensinar, em ajudar a descobrir a ver o equilíbrio-desequilíbrio-reequilíbrio. Sou completamente piagetiana. Acredito que estamos sempre nos desequilibrando, ou então não teria sentido o nome desse blog.
Adoro ver as descobertas das pessoas, me encanto profundamente com a aprendizagem ,mas gosto demais de analisar e entender os outros.
Nem sempre tenho sucesso nisso. Uns se entendem melhor, outros são. Mas eu fico ali tentando desvendar as ações, as palavras, o que tem por trás delas, a verdade escondida, o sentimento reprimido.
E vivo fazendo isso comigo. Nada é em vão, nada é simples e puro. Tudo tem uma razão, um sentido por trás e, mesmo às vezes, o sentimento se mostrando ali, fervilhante e vivo, eu encontro nele uma razão, para que ele se torne menos vivo, mais seco. Talvez proteção demais, já que depois das quedas o equilibrista passe a prestar mais atenção nos passos. Talvez mais auto-conhecimento. O equilibrista já sabe o peso de seu corpo, já sabe as quedas, as falsas quedas e já controla o medo de ir andando pra frente.
O equilibrista pensa e repensa seus movimentos, por mais que não tenha tempo pra isso, por mais que queira chegar logo ao fim da corda. Ele já usa esparadrapos nos pés, joelheira, capacete. Depois das quedas ficou mais prevenido, não tem medo de cair, mas precisa cair com proteção.
Mas de vez em quando ele tem vontade de tirar tudo. Joelheira, cotoveleira, barreira, armadura e simplesmente correr pela corda,até o fim pra ver onde vai dar. Cair, levantar ou mesmo chegar ileso ao fim da corda.
As vezes depende do fim da corda. As vezes do meio. As vezes do chão.
A cada equilíbrio novo ele se sente mais forte, mais dono da sua corda, mais parte daquele mundo circense.
O equilibrista é de carne, osso, sente dor, fome e frio. Sente medo. Mas vive na alegria. Andar na corda é seu trabalho, é a sua vida.Não tem como não amar aquilo que faz, não há percalço que o faça desistir. Uma quedinha aqui, outra ali, mas ele volta e começa tudo denovo.
Mais feliz ele fica ainda em ajudar os outros a atravessar a corda. Em ver e enxergar os desequilíbrios de outros, que, em cima da corda não conseguem. Em fazê-los enxergar que é olhando pra dentro que se anda pra frente. Que o equilíbrio é interno e não externo. Que o medo de se ver, o medo de cair, só atrapalha o ofício.
Momento maior de felicidade é ver um equilibrista se entender, se reequilibrar, se conhecer pra continuar a andar, rumo ao fim da corda, que nunca termina, sempre se transforma.

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