domingo, 17 de agosto de 2008

Estátua de Sal

Me sinto refém de mim mesma. Presa às minha próprias amarras, imóvel diante da armadura que eu mesma me coloquei. Construo castelos, barreiras, imensas muralhas para nada sair do ponto, para tudo ficar no lugar. Faço isso pra me sentir segura, mestre e dona de mim mesma, mas acabo me sentindo sufocada, presa e inerte à algemas que eu mesma me coloquei. Me sinto tentando respirar, nadando para sair de lá do fundo do mar e alcançar a superfície. Não consigo. Estou presa na proteção. Contida dentro dos muros. Tudo programado, tudo planejado. Um ponto sequer não pode sair do lugar. Tenho medo de desmoronar. Acabo intacta, imóvel, como uma estátua que não respira.
Quando vivia uma religião, me presa, precisava de liberdade e larguei tudo em busca de um próprio vôo, sem regras, sem doutrinas, sem culpa. Não dei conta de total liberdade. A liberdade é desesperadora em alguns momentos. Saber que se pode fazer tudo dá medo. Acabei inventando minhas próprias regras, pra sossegar diante de toda aquela nova liberdade. Resultado: continuo presa, entre doutrinas e dogmas. Que são meus. Não foi me imposto por ninguém, a não ser por mim.
Assim a vida se torna pesada, pouco divertida, tensa e rígida.
Queria poder transitar diante da vida, cedendo um pouco aqui sem medo, avançando para lá com ousadia. Equilibrada. Sempre equilibrada.
Quando resolvo me livrar das regras, seguir a intuição ou o coração, como se diz por aí, acabo caindo do outro lado do rio. Fico vulnerável demais, e isso me incomoda. A sensação é a de que vou ser levada pelo rio para um lugar que não quero ir, e de onde não vou poder voltar sem alguma carga de sofrimento. Gostaria de ser um barco a vela (com um motor instalado para qualquer problema ocasional), onde eu pudesse controlar o destino do barco, de acordo com o vento que sopra. Claro que para isso eu teria que ser uma grande velejadora, forte para segurar a vela, corajosa para soltá-la.
Queria poder acalmar o mar em dia de tempestade. Ficar dentro de casa, só olhando e esperando ela passar. Não gosto de estar no olho do furacão. Não sou boa velejadora. Não tenho muita força pra controlar sozinha, não tenho ousadia para deixar o barco ir até onde o vento levar. Já deixei, e fui parar em terra estranha, terra seca.
Não tenho coragem pra fazer o barco parar, no fundo gosto do movimento que ele faz e de para onde ele me leva. Parece que só consigo avistar um caminho, uma terra firme, quando em volta há dezenas delas. Acabo me deixando levar. A terra é seca, árida e não dá frutos. O chão é de pedras, e por mais que se tente andar por entre elas, acabo me machucando com uma ou outra no caminho.
Quero navegar o barco, leva-lo para outro lugar. Mesmo que seja no meio do mar, sem terra firme, mas onde as ondas sejam calmas, onde não haja tempestade, onde o sol brilhe. Mas o barco teima em me levar para outro lugar...

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