sexta-feira, 22 de junho de 2007

Rua, espada nua

Um dia estava eu, voltando pra casa de um show às duas horas da manhã acompanhada de uma amiga, quase vizinha que mora há poucos prédios do meu. Era tarde e eu tinha medo de ir até em casa sozinha. Como o prédio dela era antes, ela resolveu subir mais um pouco comigo. A rua vazia, sem movimento algum. A cabeça cheia de perguntas e angústias. De repente começei a andar pelo meio da rua. Livremente, pelo meio mesmo e quanto mais próxima do meio eu ficava, maior era a minha sensação de liberdade. A rua que normalmente ficava cheia de carros, naquele momento era vazia, silenciosa e livre. Depois de alguns minutos a amiga diz " Chega né?" . Me repreendendo como se eu fosse uma criança fazendo aquilo que é proibido. Fato é que toda a minha sensação de liberdade foi cortada naquele momento. Fiquei muito tempo sem experimentar aquilo. Há pouco tempo atrás resolvi experimentar isso a noite denovo, num dia em que a cabeça também estava cheia. Gosto de testar meus sentidos enquanto ando pela cidade. Presto muita atenção nos sons, nos cheiros, naquilo que vejo. Vou descendo a ladeira, na esperança de que ônibus passe. Vou descendo e tentando diferenciar os diversos barulhos de carros, ônibus e caminhões.
Voltando a tal experiência, com alguma angústia dentro de mim, resolvi andar pelo meio da rua mais uma vez, atenta às luzes dos faróis e aos sons dos carros que iriam se aproximando. Mais uma vez senti aquela liberdade imensa de ver uma rua vazia na minha frente, como se tivesse um caminho totalmente livre a percorrer. Andei cada vez mais para o centro dela até ficar bem no meio. Quando um carro se aproximava andava calmamente para a calçada e quando sentia a rua vazia novamente, lá ia eu para o centro outra vez. Passei a tentar durante o dia e em alguns momentos por distração ou por vontade de sentir aquela sensação subo minha ladeira pelo meio da rua atenta às luzes dos faróis e aos barulhos dos carros.
É como se eu pudesse viver dessa maneira, arriscando livremente com um caminho de pedras pela frente, mas com o cuidado de saber quando devo recuar, quando devo andar para o lado e quando devo mesmo seguir em frente. O que não posso é deixar de andar pelo meio da rua com medo de que meus sentidos não funcionem. É bom saber que posso confiar neles e por conseguinte em mim.
Uma amiga fez a experiência e gostou! Acho que é assim que deveríamos ver a vida, como uma rua com pedras, carros, motos, mas com um caminho imenso, cheio de bifurcações, armadilhas, àrvores e flores! Andando livremente por ela, arriscando, vivendo e confiando sempre nos nossos sentidos!

3 comentários:

Unknown disse...

ihhh, aqui em BG eu posso andar pelo meio da rua livremente hahahaha

Amanda disse...

Bellinha, também adoro andar pelo meio da rua! mas só tenho coragem de fazer isso tarde da noite, quando não vem nenhum carro mesmo...

Catarina Chagas disse...

Uma vez andei pelo meio da rua, confiando nos meus sentidos, e...

... fui atropelada! rsrsrsrsrsrs

Tem dez anos já que isso aconteceu. Mas não tirou minha liberdade.