terça-feira, 15 de maio de 2007

Sobre o poder (e dever) de decidir

Quando a gente é criança não precisamos e nem podemos decidir nada. Se estamos doente a mãe manda ficar em casa, se estamos bem vamos pra escola. Não há dúvida, questionamento, angústia de decisão. Nós simplesmente não temos o poder (e o dever) de decidir.
Quando crescemos mais um pouco podemos decidir nossos amigos, se queremos ou não comer brócolis, alfaçe, feijão, se vamos ou não vamos à praia... Lá pelos 17 anos temos o dever de decidir que carreira seguir, em que faculdade queremos estudar e aí já começa a grande angústia do poder e do dever de decidir. Uma vez ouvi que na escolha sempre abdicamos de alguma coisa. Sim, escolhemos uma em detrimento de outra, sempre deixamos alguma coisa pra trás. Daí deve vir a angústia de ter que decidir alguma coisa.
Se quando crianças nos sentíamos confortáveis, protegidos e acomodados por não ter de decidir nada, quando adolescentes ficamos extremamente irritados de não poder decidir a hora de chegar em casa . Já na fase adulta se pede pelo amor de Deus para que alguém possa decidir por nós: se estamos doentes o suficiente para faltar o trabalho, se a oportunidade a frente vale apena, se vamos sair na sexta a noite tendo que acordar cedo no sábado de manhã, e no caso específico das mulheres se vamos usar aquela roupa mais comportada pra causar boa impressão de menina boazinha e correta ou o vestido mais ousado de mulher decidida e bem resolvida.
Eu nunca fui boa de tomar deciões. Desde pequena sofria com isso. Se tinha a oportunidade de viajar com uma amiga não sabia se ia pois sentia saudades de casa e dos pais. Meus pais nunca decidiam por mim. Nunca fui boa de terminar relacionamentos pois sempre tinha medo do que ia estar perdendo e se estava decidindo a coisa certa. A única vez que tive esse poder de decisão, me arrependi amargamente (e me arrependo até hoje).
Quando acordo meio doente fico me lembrando de como era bom quando eu podia e devia ficar em casa e não ir pra escola porque mamãe não deixou. Como era bom quando não queríamos ir em alguma festa e mamãe não deixava ( assim não precisávamos desagradar os amigos, não tínhamos decidido nada!).
Não nego a satisfação de poder escolher meu próprio caminho, de ver as resultantes boas e ruins das minhas escolhas e poder contar com isso para as próximas, de poder mudar de caminho na hora que bem entender e de ser livre. No entando, acho difícil lidar com o fato de que só eu sou responsável pelas minhas escolhas e suas consequências. Acho difícil decidir sozinha , apesar de saber que não ha ninugém que possa ou deva escolher por mim. AO mesmo tempo sinto prazer em sentar comigo mesma, tomar um café e poder pensar livremente sobre a escolha que devo fazer.
Mesmo assim, ainda sinto saudades de ser criança.

3 comentários:

Mari Nunes disse...

ai amiga!! me identifiquei totalmente c/ vc!! odeio ter q decidir as coisas sozinhas, morro de medo de fazer a escolha errada e nao poder voltar atras! q saco essa vida de gente grande!!

Unknown disse...

fazer escolhas como ir pra campinas ou nao =)

Catarina Chagas disse...

Alguém disse: "Na vida é preciso escolher um entre mil caminhos e viver com a nostalgia dos outro 999".

Tinha razão... Até porque nem sempre há apenas um caminho certo.