domingo, 12 de abril de 2009

Tarefa de descompromisso

O sitio é daqueles lugares mágicos onde podemos ficar horas parados contemplando o céu, olhando as plantas, a paisagem. Ando com a sensação de que preciso aproveitar tudo logo, antes que se acabe. É como um carpe dien exacerbado, onde impera a necessidade e pressa de poder de curtir tudo o que é possível ao mesmo tempo.
Saí da cidade no intuito de fugir desse clima de pressa, pouco tempo, muitas coisas, pouco tempo, que acabam nos deixando num estado de aceleração tamanho que é difícil nos desfazermos, mesmo nos finais de semana.
Qual a minha surpresa ao chegar aqui e continuar no mesmo estado de aceleração que me encontrava antes. Tinha que aproveitar os dias fora para ler, pensar, escrever, tomar sol, balançar na rede, olhar a paisagem, relaxar (sim, relaxar estava dentre os meus deveres de vir ao campo), ir a piscina, acordar cedo, dormir cedo, relembrar a infância, tomar café da manhã no sítio (coisa que eu mais adoro, desde criança), olhar o céu, não dormir no sol para olhar o céu, passear, não pensar em nada, aproveitar ao máximo. Ufa!
De repente tudo virou uma tarefa como aquelas do cotidiano do qual eu pretendia fugir. Como eu disse, vim para o sítio no intuito de me desligar da rotina, da cidade e das tarefas e acabei com mais uma lista delas para cumprir.
Nunca entendi muito bem quando as pessoas falavam do stress, da vida corrida, dos maus hábitos alimentares, da ansiedade que vem crescendo a cada dia mais. Não tinha vivido, até esse ano, uma rotina pesada, dessas que imploram por uma fuga para um lugar como esse em qual me encontro agora no momento em que digito esse texto.
Desde o início do ano entrei em uma rotina pesada de muito trabalho e estudo, mais pesada do que eu imaginava e que tem meu causado um mal estar constante. Isso talvez não fosse problema se tivesse os finais de semana para sair da rotina, mas não os tenho. Em breve terei, aguardo ansiosamente dia 23 de maio, dia em que acabo minha pós-graduação aos sábados e que os terei de volta para mim, assim como os domingos que atualmente uso para estudar.
A questão é, que, com a necessidade que temos hoje de trabalhar, criar projetos, pensar no futuro, pensar em nós, nos filhos (não os meus, não os tenho), em namorar (não nos meu, não o tenho), em, em sair, se divertir, procurar alguém interessante para namorar, esperar o alguém, descansar e etc. tudo, até a diversão e o descanso acabam virando mais uma tarefa a ser cumprida. Talvez seja a odisséia dos vinte e tantos anos, talvez os que estejam passando por isso leiam isso e se identifiquem. Sabemos que é uma fase em que temos que plantar tudo para colher no futuro, e isso inclui saídas para conhecer pessoas interessantes, descanso para agüentar a semana de trabalho, estudo e trabalho para estruturar a carreira, enfim, são muitos “tem que” pensando no futuro, plantando para mais tarde colher.
A avidez por dar conta de tudo, por conhecer tudo, aproveitar tudo, sentir tudo, trilhar todos os caminhos possíveis acaba fazendo com que não consigamos aproveitar nada em sua completude. Nada nos completa, nada consegue dar-se por finito. E a ansiedade vai aumentando cada vez mais. Nem um paraíso como esse em que me encontro agora é capaz de sanar ou abrandar esse sentimento de incompletude e pressa que temos aos vinte e tantos anos.

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