domingo, 19 de abril de 2009

Carinhoso

Abriu os olhos. Eram seis da manhã e aquele pensamento atormentava-a. Decidiu então ir ao encontro do tormento. Tomar uma decisão, sair da rotina de um domingo pacato e sem vida. Partiu rumo ao desconhecido com ponta de conhecimento. Partiu em busca daquilo que mais queria. Tinha medo de tudo dar errado, de sair do normal e controlado numa busca desenfreada para acalmar o coração. Saiu em busca. Saiu.

O coração estava naqueles dias de bater forte, lembrando-a a todo tempo que ele estava ali. Sim, ela foi atrás dele.

Estava sendo guiada pelo impulso, seu companheiro não muito frequente, pois ela gostava de manter tudo controlado, sem imprevistos, sem novidades, tudo ao seu alcance de controle. Mas aquilo que sentia já saia de seu controle, então por que não ir em busca.

Chegou. O tormendo parou por alguns momentos. Olhou as pessoas, os prédios, viu que aquilo era comum. Ninguém a olhava, a observava por estar só. Sentiu- se grande, maior do que já tinha estado antes. Sentiu-se madura, adulta, inteira.

Foi encontrada pelo que tanto almejava, como se já não bastasse o encontro, tinha sido achada. Sorriu.

Oscilava entre uma tempestade e uma calmaria. Não tinha mais aquela sensação de que tudo ia acabar no próximo instante. Sentia que esse instante duraria a eternidade. E durava.

Ele a levava para o seu mundo, um mundo fora do dela, o mundo real. Ela tentava entrar no seu mundo, com medo de parecer fora do mundo. Olhava, chegava mais perto. Mas era só chegar perto que o tormento, agora já de encontro com sua razão de ser, voltava a fazer tempestade.

Misturava uma felicidade incabível,transbordante, com um tanto de vontade de chorar. Não era tristeza nem alegria. Era poesia. Que nem palavra pode dar nome. Que nem nome pode ser suficiente. Se dividia agora entre a poesia e a realidade. Arriscar o maior do seus mundos pra abraçar com toda força aquilo que nem ela sabia se cabia dentro de si? Desistir para acabar com a tormenta poética?
Não fez nem uma coisa nem outra. Voltou pra casa com a quase maior da felicidades (sim, pois ela ainda não estava completa). Felicidade simples de criança que vê a mãe buscá-la na escola, felicidade de dia de céu azul, felicidade de filme do Chaplin que consegue misturar lágrima e sorriso num mesmo instante.
O medo da poesia em vão? Esse ela deixou pra depois.
E quando chegou em casa só restava de tudo isso, um Carinhoso de Pixinguinha que cantou, cantou sem parar.

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