quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Sem Presa, com delicadeza

Pegou o fio do novelo com toda sua delicadeza. Ia desenrolando, desenrolando, sem pressa de chegar ao fim, olhando pedaço por pedaço,fio por fio, sentindo a leveza e a maciez da lã. Sabia que ia chegar ao final do novelo, queria saber como era, se a linha era bastante para um chapéu ou somente para um sapatinho de bebê. Mas agora só apreciava o momento de percorrer cada pedaço, como se deles não precisasse fazer peça alguma. Esquecia-se por alguns instantes de pensar; em como fazer as peças, em dar os nós e os pontos certos. Queria sentir o aconchego da lã. Parava, olhava o novelo e pensava: sei fazer um chapéu, mas quero fazer sapatos, meias. E a inquietação da serventia da lã logo voltava a lhe incomodar. Podia enrolar e desenrolar o novelo quantas vezes quisesse. Podia dormir agarrada a ele, passear com suas mãos diversas vezes por aqueles fios tão macios. Talvez nem precisasse nem quisesse fazer nada com eles. Ou pudesse demorar dias, meses, anos para tecer aquilo que mais lhe fosse necessário, que mais lhe agradasse. Poderia esperar aprender a fazer pontos novos, mais bem construídos. Talvez precisasse de mais tempo pra aprender a fazer um cachecol, daqueles grandes e bem juntinhos, que esquentam um inverno inteiro.
Era isso. Queria um cachecol que durasse um inverno inteiro, ou muitos invernos. Pra isso precisava aprender novos pontos, e ir deixando os fios se tecerem. Sem pressa, com delicadeza.

Um comentário:

Sr. Despedaça Corações disse...

Muito prazer...
Cachecol.

A propósito.
Feliz aniversário atrasado.