sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sapato alto de salto agulha

Algumas pessoas tem o dom de magoar como quem pisa de salto alto agulha num pé descalço. A própria descrição da metáfora já me causa uma enorme aflição. Mas quem fere assim não provoca dor física, é dor de alma. Nos tira a paz. E é como se quanto mais pisasse mais insatisfeito fica com o buraco deixado. E continua pisando, pra ver até onde o pé aguenta sem tirar. Mas tem pés que cismam em voltar pro mesmo lugar, mesmo sabendo que ali correm sapatos altos de salto agulha. Sapatos que não olham por onde andam, sapatos que pisam pela simples alegria de se pisar. Pisar no chão é um ato sem dor. Nós empurramos o chão, o chão nos empurra de volta, e assim andamos. Nesse caso o pisar é pré-requisito para a caminhada, pra ir pra frente.
O pisar no pé não. Pisa-se por distração, por maldade, por curiosidade de saber até onde vai a força do próprio pé contra a força do outro.
As vezes o pé de baixo também é curioso, teimoso, chega a ser até masoquista. Se vê e se sente pisado, não tira o pé de baixo. Fica vendo até aonde aguenta a dor, quanto tempo consegue ficar em baixo do outro pé. Tem gente que só ao ameaçar da sombra de um sapato alto de salto agulha já tira seu pé no mesmo instante. Já sente a dor antes de tê-la fisicamente presente.
Tem um sapato alto de salto agulha perfurando meu pé, mas não consigo tira-lo de onde está.

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