domingo, 23 de novembro de 2008

Antes do Amanhecer


Não se conheciam. Marcaram um encontro na Piazza de la Signoria às 19h em frente à estátua de Perseu segurando a cabeça de Medusa.
Andou o dia todo por Florença, a cidade arte da Toscana, passou pelo Duomo, pela Ponte Vecchio, andou pelas ruas estreitas com chão de pedra. Antes da hora marcada já estava no ponto de encontro. Olhava para todos os homens que passavam pensando que pudessem ser ele, uns mais estranhos, outros mais bonitos,uns velhos, outros moços. Não sabia seu rosto, sua idade, seu jeito. Só tinha um nome e um ponto de encontro. Circulou por todas as estátuas e pensou diversas vezes em fugir do encontro. Como iria se encontrar com alguém que nunca tinha visto, numa cidade desconhecida, num país outro? Não fugiu. Não tinha mais como. Já tinha enfrentado medos muito mais escabrosos pra fugir de um tão simples.
De repente o viu andando em sua direção. Já tinha se perguntado se estava frente à estátua certa, na praça certa, no horário certo. No momento em que o viu, sabia que era ele. Era como se sempre se conhecessem. Ela cheia de sacolas, ele cheio de aventuras. Ela temerosa e cansada, ele com fôlego para mais 4 meses de andanças pela Europa.
Andaram por toda a cidade, passaram por diversos lugares, muitos ela já os tinha visto de dia. Mas agora era diferente. Era de noite, não estava mais sozinha.
Ele falava da estonteante arquitetura da Duomo e ia lhe explicando cada detalhe. Ela falava de seus medos, de sua tristeza de estar só. Ainda faltava Roma e Portugal a seguir sozinha.
Procuravam um restaurante para jantar. Andavam, se perdiam. Já não fazia mais tanto frio.
Entraram em um. Resolveram não ficar. O chapéu comprado em Paris foi perdido. Ficou como pedaço daquela noite meio mágica meio salvadora. Tudo bem, ela nem gostava dele tanto assim. Do chapéu.
Não tomaram vinho, tiraram fotos, conversaram como se fossem grandes amigos, há grandes tempos. Planejaram reencontros no Brasil. Eram de naturezas diferentes. Ele era do mundo. Ela era das pessoas. Ela presa, ele livre. Ele cidadão do universo, ela um pássaro contido, precisava de dono.
Um não tentava convencer o outro, mas as palavras dele soavam para ela como sonho distante . Quis ser daquele jeito. Não pensar no amanhã, no ontem, no que tinha ficado. E apesar de fechado, trancado e nomeado, aquele coração teve medo de cair. Já tinha caído, mas ela não quis perceber a queda. Pegou - o colocou de volta no lugar e continuou.
Ele a chamou pra sair. Ela era presa. Combinaram outra coisa pro dia seguinte. O coração quis fugir de novo rumo ao desconhecido, ao novo, a aventura. Ela, como boa sentinela, não deixou. Fugiu pra Assis no dia seguinte.Achou que Francisco talvez pudesse salvá-la daquele coração inquieto. E depois pra Roma, outra fuga.
Não mais se encontraram em terras européias. Não viveram nada além de uma caminhada por Florença, a cidade arte da Toscana. Ficou somente a lembrança de uma noite entre Davi, Perceu, Medusa e Pinnochio. Um jantar e uma bela conversa. Ela com massa, ele com risoto.Trocaram emails, tentaram se reencontrar em terras portuguesas. Não conseguiram. Talvez houvesse mesmo que ficar só em Florença.
Ela quando voltou ao Brasil, teve o coração nomeado despedaçado. Agora já não tinha mais nome.
Ele? Bem, ele era um cidadão do mundo.

Um comentário:

Anônimo disse...

adorei o post!!! é uma daquelas situacoes em que o proprio fato da historia nao ter caido no mundo real, ter ficado no "imaginario" e no encanto de firenze faz com que tenha sido perfeita. triste por nao ter havido um dps, mas feliz pelo durante...

só cuidado com essas fugas... vai na cara e na coragem. o q vc tem a perder???

bjao!