segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Despretenciosamente

Um tempo de mudanças é tempo que se amadurece sem saber como. A gente só se dá conta do que fez, do que sabe, do quanto andou, quando trilha caminhos parecidos. Assim dá pra descobrir a genialidade da vida. Poder passar por diversos caminhos, olhar pra trás e ver os atalhos que pegou, os que deram certo, os que levaram a outros rumos, os que tinham mais espinhos, os que levavam a lugar nenhum...
A delicadeza certeira da vida se mede pelas aprendizagens. É encantador ter a chance de viver várias coisas de formas diferentes, de aprender com os erros, de refazer, reviver, sempre num movimento em espiral. "Um homem não entra no mesmo rio duas vezes." O homem rio já não é o mesmo, o homem também não.
Me orgulho dos meus acertos assim como prezo cada um dos meus erros, cada tropeço, cada queda vivida, sentida, chorada, frustrada. Do chão não passa, já dizia a minha mãe. "Opa, caiu? Ah, foi só um susto" diziam as professoras da escola antes que a criança começasse a chorar pela queda. "Levanta, limpa o joelho e volta a brincar". Que seria da gente se ficássemos parados com medo de levantar, e tornar a cair?
As vezes sinto que a vida nos leva de volta aos mesmos pontos, como se dissesse: "Tenta de novo." E se a gente tenta e ainda não conseguiu daquele jeito, ela espera o susto passar e novamente nos bota frente ao mesmo ponto, dizendo: "E agora, quer tentar de novo?"
As vezes tentar de novo não significa querer acertar, e sim saber tentar. Aliás, me pergunto onde fica o acerto, será que há mesmo um fim a se chegar? Ou o importante é o caminho, o que a gente aprende com ele, os que passam por ele, o que os outros aprendem com a gente. Não é isso que fica? .Tudo é aprendizagem,já dizem por aí...
 "Você um dia vai rir disso tudo, acredite!" "Tudo passa". São frases que a gente tá tão acostumado a ouvir das mães, avós e conselheiras, e que na hora do aperto, a gente diz "Você diz isso porque não é com você." Claro, e justamente por isso. Na hora do temporal a gente quer que passe mesmo. Quer mandar a dor embora, juntar os pedacinhos bem juntinhos pra ver se eles grudam de novo. As vezes a gente consegue, as vezes, não. As vezes em muito tempo, as vezes não. Mas que passa, passa... e a temos a oportunidade divina de olhar pra vida novamente com olhos curiosos, apaixonados, extasiados.Não é a toa que essas frases viraram senso comum. Não é a toa que a maturidade faz bem. Há que se ganhar alguma coisa com o envelhecer do corpo, com a história, com o tempo, com as tempestades. Nem que seja o fato de não dar tanta grandeza pra elas, nem que seja botar um belo casaco e um enorme guarda-chuva pra enfrentar o tempo lá fora. Nem que seja pra se surpreender porque ela passou antes de você descer do onibus e você nem precisou do guarda-chuva.
Crescer é aprender a conviver com os "nao sei" "talvez" da vida... porque no fundo ela tudo mesmo um grande não saber. Não se sabe a hora de nada, não se pode controlar o tempo, o acaso, o destino.  É a vida é uma sucessão de supreender-se, de caminhos que não se sabe onde vão dar, de cruzamentos imprevisíveis, novos atalhos...
Sempre quis entender tudo, explicar o inexplicável e, saber o fim da linha, prever o futuro! Sempre tentando evitar surpresas, boas ou ruins. Assim não me decepcionava, mas também não tinha alegria das boas surpresas! Tentava prever o fim de um caminho, antes de começar  a andar, pra poder escolher se ia mesmo por ele ou se tentava outro mais seguro. Se alguém me falava de um filme, perguntava antes se o final era triste ou feliz, na intenção de decidir se veria ou não. Com isso perdia o meio, o caminho, o processo. Quantas coisas poderia ter aprendido com um simples filme de final triste? Talvez esses sejam esses os melhores...
Viver despretenciosamente é mais leve, mais tranquilo, e também mais difícil.

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo disse...

Muito bom texto! Nnunca li nada que traduzisse melhor esse esse conceito específico que eu tenho aprendido a viver radicalmente.
Engraçado o quão interessantes são os rumos pelos quais o acaso leva a gente.. Por exemplo, estava eu trabalhando, quando despretenciosamente parei para procurar no google conotações da palavra "despretenciosamente", quando inesperadamente encontro esse texto que praticamente narra parte da minha trajetória de vida.
Gostaria de, se possível, conversar com quem escreveu. Tenho alguns aprendizados bastante interessantes nesse campo.