domingo, 17 de janeiro de 2010

Pausa

Era hora de parar e descansar. Sentia uma tristeza leve e ao mesmo tempo profunda. Latente daquelas que não se deixa ir embora, daquelas que nos quer lembrar o tempo todo que não estamos sós. Estamos com ela.

Respirava aliviada um suspiro que há tempos não era capaz de dar. Caminhava com leveza e clareza pela praia, enxergava agora o que antes não podia. A água agora era clara, cristalina, pura. Tinha consciência de tudo e era só.

Era um cansaço constante como quem precisa dormir dias depois de noites sem dormir. Antes dormia porém agora o corpo e a mente descansavam. Descansavam de si mesma, da tormenta que ela mesma criara.

Não sabe dizer até agora como chegou aonde está. Como se livrou da tormenta, das noites mal dormidas, quem lhe trouxera o respiro e o suspiro de volta. Não sabia, tentava saber, olhar, entende; como sempre, era daquelas que não se continha em não entender, mesmo aquilo que não era para ser entendido. Talvez nem devesse mesmo entender, pensava. Mas como, ´se há dias, semanas mal era capaz de fazer o ar entrar e sair dos pulmões e agora respirava com tanta facilidade. Respirava, sentia o ar entrar e sair, suspirava como quem deixa pra fora tudo o que não quer mais. E precisava respirar e suspirar ainda mais e mais.

A mente tem dessas artimanhas. Vai nos criando e pregando peças até que nos vemos num labirinto sem fim, sem saída, sem ar. E de repente, como quem se vê num emaranhado de teias, todas se desfiam e a gente cai. Cai no colchão de ar, mas com a pancada da queda.

E é essa, pancada da queda que não a deixava respirar profundamente sem o tantinho de dor. Tantinho mesmo, mas suficiente para que tirasse dela a leveza de antes. Por mais que agora soubesse disfarçar mais, andar com mais equilíbrio, levantar com mais facilidade, ainda assim não era possível descartar aquela pontinha.

Era tarde, muito tarde, mas era necessário recuperar o que tinha perdido. Era daquelas que depositava alto, apostava todos os sonhos, todas as fichas, todas as energias. E perdendo (de qualquer forma que fosse o perder), ficava fraca, com menos vida, cansada de ter que começar tudo novamente.

Mas ia, ia como quem levanta da cama todos os dias para trabalhar. As vezes a vida se tornava um trabalho diário e mecânico, com tarefas e deveres a serem cumpridos, mesmo nas férias.

Precisava ficar mais consigo, ouvir suas vontades, suas faltas, suas tristezas. Parar, olhar, enxergar, entender ou não, e enfrentar. Entrar mesmo em contato com aquilo que ela sabia que tinha ferido, doído. Era brava, não queria admitir pra si mesma que tinha aberto novamente aquele caminho, aquela ferida, ferida sabida que tinha que ser bem cuidada.

Descuidou-se, ou deixou-se descuidar pensando numa retomada, numa reviravolta. Acreditava nas reviravoltas da vida de vez em quando.

Precisava descansar, se cuidar, mas ao mesmo tempo não queria parar. Apesar de saber que era uma pausa necessária, não queria parar, com medo do que a pausa traz.

Era preciso parar, repousar para voltar. Mas tinha medo do tempo perdido, das coisas perdidas que não voltam mais. Assim como o sol de um dia de verão.

Ainda estava na corda bamba, assim como o equilibrista que sabe que, se parar, cai.

Precisava cair. Será?

Um comentário:

Anônimo disse...
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