sexta-feira, 31 de julho de 2009

Traços Retomados

Olhou para aquele rosto como se procurasse nele um estranho ou um conhecido recente. Permeava seus traços como se buscasse não conhecer aqueles olhos, aquelas linhas, como se nunca houvesse sentido o toque daquelas mãos. Gostaria mesmo de não saber, de não conhecer ou quisesse que o tempo tivesse a capacidade de apagar, não só os fatos como aquilo que fica deles. Não era possível . Aqueles olhos lhe remetiam às mãos que lhe traziam o passado conjunto, os fatos já vividos e os momentos sentidos. Apesar de tudo não sentia dor forte. Era sim um sinal latente, como aqueles que querem mostrar que estão ali sem lhe fazer grande estrago. Mas o alarde já estava feito, ou então conseguiria olhá-lo como estranho recente ou conhecido passante. Não conseguia. E descobriu que nunca ia conseguir. Mãos, gestos, traços ficam como marcados na pele, no corpo e na lembrança, não sei se são para serem esquecidos. Olhava novamente e tentava buscar um jeito de olhar que não doesse tanto, uma posição onde não ficasse tão desconfortável, rememorando os traços - mesmo que não quisesse- se questionando sobre o possível futuro que nunca houve. Aos poucos foi encontrando o jeito, o gesto, aquele estado em que se respira fundo e volta-se o olhar para outro ponto, mantendo-se a referência, mas desfocando do objeto.
O sentir, o não querer estar perto desejando ardentemente estar, a luta interna permaneciam e provavelmente permaneceriam por bons longos anos ou eternamente. O que se transformava era a intensidade. Já não era tanto. Já era suportável. Já era possível conviver com sem pensar em. Já era possível.
E assim retomou os meses perdidos, os amigos deixados de lado, os momentos esquecidos.

2 comentários:

Anderson Carvalho disse...

Me desenquilibrei? hum...?
Talvez um pouco. Quem sabe um dia eu não desenquilibre tanto. "Aos poucos foi encontrando o jeito".

Quem sabe bem dessa corda deve ser boa equilibrista.
È boa de papo é boa artista.
Será Italiana ou nortista?
Que bacana seria conhecer essa musicista.

E você, sabe usar bem a corda?
Bom, meu poema ficou uma droga eu sei, mas passei por aqui e descobri seu blog através do orkut de um amigo.

Parabéns!!!!

Kerolzinha disse...

Adorei vislumbrar sua corda. Seu blog é delicioso!