domingo, 7 de fevereiro de 2010

Planta dormideira

Olhou a caixa de clips que ganhara dele e mantivera durante todos aqueles anos. Não havia restado nada mais a não ser um uma caixa de clips que ela olhou em sua casa, gostou e ganhara de presente singelo.
Não o olhava mais como antigo amor, de vidas vividas e passadas. Olhava com estranheza àquela pessoa que, tão perto havia chegado um dia. Hoje era tudo bem mais longe. Nada mais que assuntos corriqueiros sobre o cotidoano dele. Dele, pois o dela não o interessava mais.
Tentava se aprofundar, lembrar-se de que um dia tinham sido tão próximos e tão queridos e isso é coisa que não se deixa de lembrar. Seriam sempre para um e para outro os primeiro passos de laços maiores. O primeiro namorado, a primeira namorada. Isso ninguém lhes tirava. Se alguém lhe perguntasse um dia ou falasse desse assunto em qualquer roda, era dele que se lembraria. E a ele poderia dizer o mesmo.
Não havia restado mais nada a não ser o carinho que, ela, insistia em manter, e aquela caixa de clips em formato de lápis. Acabava sempre esquecendo de mencionar o grande urso panda que ocupava metade de sua cama e que ganhara naquele único aniversário que viveram. Ele, o urso, tornou-se companheiro inseparável de todas as noites. E assim como a caixa de clips foi ficando, ficando e ficando a mostra, pois o resto; as fotos e presentes e cartões estavam guardados há anos dentro de uma caixa.
Não sentia falta dele ou do amor perdido e estabelecido no passado. Aquilo já vivia resolvido e passado há tantos anos, amores, laços e desfios depois. O que não a deixava a mente quieta era ver que com ele, logo com ele, o primeiro, aquele com quem aprendeu a viver junto, a ceder, a brigar e a fazer as pazes; logo com ele não conseguia passar do vai-e-vem da vida cotidiana.
Se mantinha fechado como quem não quer dividir ou lembrar do que passou. Ela com coração de quem ama, escorrega, cai e levanta novamente, insitia em lembrá-lo do que já tinham sido um para o outro e de como agora era ela, anos depois, uma mulher e não a menina de antes.
Mais uma vez olhos naqueles olhos como quem procurava algo de antigo, de permanecente, de eterno, mas logo ele desviava o olhar, se encolhia como minhoca no casulo, como a planta dormideira que não pode ser tocada.
Mesmo assim, ela mantinha vivo, mesmo sem saber aquele carinho e ternura de primeiro amor.
E sem perceber, à noite, sonhava com ele.

Um comentário:

Raphael Montechiari disse...

Bom mesmo, Isa!! Seus textos estão maneiros demais!! Desequilibrando...rsrs...bjs!