quarta-feira, 20 de maio de 2009

Por bem ou por mal

De repente se viu encurralada por aqueles valores, que sempre cultivou e aprendeu que eram os certos. Aprendeu a viver assim e se orgulhava disso. Talvez fosse um pouco inflexível, mas como ser flexível com valores. Não existe meio valor! Meia honestidade, meia bondade, meio respeito. Não sabia viver sem eles e gostava de tê-los assim bem arraigados, bem próximos, bem queridos.
De repente percebeu que aquilo que tanto prezava, alimentava a fazia cair numa armadilha. A armadilha de ser diferente dos outros, de não se enquadrar naquilo que te pediam e exigiam. Era demais. Tinha que ser assim? Abrir mão do que pensava, acreditava e seguia em função de uma necessidade maior? Fazer diferente, mais, oposto do que pregava e sentia com toda a sua alma que era o certo? Fazer errado porque lhe pediam que fizesse? E como lhe pediam.
Tentou se acalmar. Tinha de haver um jeito que pudesse combinar flexibilidade de ações, mas a mesma crença, os mesmos valores sentidos, a mesma fé professada. Tinha de haver um jeito de conseguir separar o joio do trigo. Sim, o joio do trigo. Pois no meio do trigo havia muito, muito joio. Tanto que era difícil enxergar o trigo.
Mais uma vez se desequilibrou. A tontura foi forte, forte o suficiente para fazê-la cair no chão e pensar se queria mesmo se levantar e continuar seguindo aquela corda. Ainda não sabia. Ainda não sabe. Não pode pensar, precisa continuar. Precisa subir novamente e continuar trilhando aquela corda, mesmo que seja cheia de espinhos.
Há de haver um jeito de não se sentir tão ferida pelos valores contrariados. Há de haver um jeito de viver ética, correta e profissionalmente apesar daqueles que tentam tirá-la desse caminho. Há de haver um jeito de viver, sem camaradagem. Há de haver um meio termo, um meio da corda, um meio do pé que atravessa, um meio que não doa tanto. Um lugar onde o espinho não machuque, um espaço para acomodar a pedra no sapato.
Sim, a contragosto ia ter que aprender a viver com a pedra no sapato. Não ia mais jogá-la fora como fez antes pois com ela lhe foi todo o sapato seminovo. Agora ia se acostumar com a pedra, aprender a conviver com ela até que não a sentisse mais, até que o incomodo fosse diminuindo, diminuindo até desaparecer. Mas como se havia aprendido sempre e sempre que as pedras no sapato foram feitas para serem tiradas? Como, se ela mesma sentia aquela dor enorme de pedra no sapato e sabia que tinha que tirá-la?
Essa pedra agora não podia ir embora. Ia ter que se acostumar, por bem ou por mal.

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