domingo, 18 de outubro de 2009

O rio

Tentou mergulhar naquele rio assim como quem mergulha num lago onde não se sabe o fundo, onde não se conhece os peixes, as ervas, a água. Pensava que deveria calcular, medir, pensar, não se jogar como quem boia na tranquilidade de uma piscina de água quente. Não deu. Não quis. Não conseguia. Não era da sua natureza medir tanto naqueles assuntos de rio. Era daquelas que ia pisando pé até a beira. Fitava o rio, admirava sua beleza, se inebriava com seu reflexo na água. E se sentisse a água quente e cristalina, como aquela em que sonhava tantas vezes, não hesitava em imaginar como seria bom mergulhar nele todos os dias.

Ouvia vozes vindas de todos os lados, como almas penadas que insistiam que ela não deveria mergulhar no rio, nem fitá-lo, nem imaginá-lo, nem sonhar com ele. Diziam que naturezas como a sua não podiam se valer disso.

E ela, sentindo enorme atração por aquilo que via e não via dentro do rio, ficava ali, imóvel, esperando que o próprio rio desse o primeiro passo; assim ela não teria que fazê-lo.

Parada na beira do rio ouvia o canto dos pássaros, se distraia com a borboleta que passava, sentava, olhava para o céu sonhando com o dia que pudesse ser raio de sol, que entra levemente por dentro do rio e ilumina aquilo que não se vê.

Leve como a pena dos pássaros que ouvia cantar, a menina agora não queria saber se a água era muito fria, os se havia pedras escondidas por debaixo das ervas; queria apenas sonhar. Sonhar que água era morna e sem correnteza, sonhar que sua natureza era outra, sonhar que não havia pedras nem espinhos dentro do rio, sonhar que entraria nele assim todos os dias e que eles se completariam como 0 caule e a semente, o pólem e as flores. Queria poder sonhar, mesmo que, uma vez dentro do rio pudesse ser levada por uma correnteza para um lugar distante e inóspito.

Mergulhou dentro do Rio.

Nenhum comentário: